
(Catarina Eufémia Baleizão, mãe de 3 filhos, analfabeta como a maioria das mulheres trabalhadoras de então, assalariada rural do alentejo latifundiário de trabalho sanzonal, é assassinada a tiro a 19 de Maio de 1954 na aldeia de Baleizão, na sequência de uma greve dos trabalhadores agrícolas que, de entre outras reivindicações, exigiam um aumento da "jorna" das mulheres na campanha da ceifa. Catarina Eufémia tinha 29 anos, transportava ao colo o seu filho de oito meses e, diz-se, estava grávida.Logo em Maio de 1974, um dos médicos autopsiantes à data da sua morte, Henriques Fernandes, revelou que Catarina não estava grávida e que Catarina tinha sido abatida à queima-roupa pelas costas (diz-se que quando estava caída no chão com o seu filho).Mais oito mulheres e três homens foram presos neste processo e levados a julgamento, acusados de terem perturbado o trabalho de outros trabalhadores e de desobediência à GNR. Quatro foram absolvidos, os restantes levaram pena suspensa, mas todos eles ficaram de prisão preventiva até à realização do julgamento duas semanas depois.Discutir se Catarina Eufémia era uma camponesa pobre, analfabeta e sem consciência política e social, ou se era militante de qualquer dos partidos que insistem em a reivindicar, é um verdadeiro absurdo.Catarina simboliza não só a heroicidade de um povo que luta contra as difíceis condições de vida debaixo de uma ditadura fascita, mas também é o rosto simbólico da participação activa das mulheres nesta luta.Como qualquer figura simbólica com trajectória semelhante, a (re)construção da sua imagem é retocada e fabulizada, mas tentar denegri-la ou menosprezar o seu valor simbólico é, no mínimo, um insulto a todos os que lutaram contra o fascismo.Catarina Eufémia ficará, para os que de nós sabem o que é viver dob uma ditadura fascista, e em particular para as mulheres, como um símbolo da revolta de um povo contra essa opressão. Como um símbolo de cidadania, de luta pela liberdade ...)
Chamava-se Catarina
O Alentejo a viu nascer
Serranas viram-na em vida
Baleizão a viu morrer
Ceifeiras da manhã fria
Flores na campa lhe vão pôr
Ficou vermelha a campina
Do sangue que a brotou
Acalma o furor campina
Que o teu pranto não findou
Quem viu morrer Catarina
Não perdoa a quem a matou
Aquela pomba tão branca
Todos a querem p'ra si
Ó Alentejo queimado
Ninguém se lembra de ti
Aquela andorinha negra
Bate as asas p'ra voar
Ó Alentejo esquecido
Inda um dia hás-de cantar
Sem comentários:
Enviar um comentário