Cry Freedom Cry

saudade de brincar com as bonecas.
saudade de ir à escola de mochila cor-de-rosa e óculos em forma de coração.
saudade de ser a preferida da minha professora.
saudade...
quem terá inventado a saudade? bem para se inventar a saudade tem que se trabalhar muito para se inventar também a solidão, a distância, o tempo, a morte e tantas outras que de tantas que são, já nem eu me lembro. são estas as que me importunam. dizia o senhor da papelaria que a a ignorância é perdoada a quem da sabedoria não careceu. e não que é o meu caso? a solidão no vazio desta casa e no passar em branco as páginas do meu diário mais recente. o tempo que já não me devolve a fralda e a comichão das blusas de malha da Benneton que a minha mãe docemente me escolhia. já não me lembra sequer do sabor do leite da mama da minha mãe. já não me tráz a tristeza de ter que comer a sopa sob pena de um castigo qualquer. agora as penas são outras e já nem é por comer a sopa...como este tempo corre...terá medo de alguma coisa? a morte! também quero falar dela. ela atacou quem eu não queria. atacou-me a mim também. destruiu tudo. queria falar dela com a leveza da racionalidade mas é-me tão difícil. é agora e em tantos outros dias. e às vezes noites. sou pessoa para lhe dar mérito também. (quando tiver coragem e me apetecer até lhe dedico umas palavras). se destrói também constrói. perspectivas de vida. mais gavetas no armário da realidade. uniões e desuniões. teorias e crenças. alucinações. pesadelos. cria tanta coisa mais. distância. são um rol de histórias que ficaram por aí. no tempo. no espaço. no coração. no tempo e no espaço do coração. er por aqui que queria começar. era disto que queria conversar no outro dia quando chegada a casa. seria o "tema de varanda" em que o pássaro se falasse diria "estou contente por dizer miau e não piu piu". em que o dia tinha mais sal e agradava no paladar das desavenças. porque foi disto em que tropecei no tempo do coração. e o espaço que agora regista nova turbulência até chega a imaginar a ilusão dessa emoção. gostava que no cimo da minha ruela o seu nome fosse em azulejo pintado à mão. a rua principal onde decerto sempre te encontraria. o suburbano é sinónimo do subumano no dicionário do quotidiano. a cor também escureceu e a pedra (que em latim é petra e que por mero acaso está na origem do nome Pedro) é mais densa e menos dura. é alcatrão. o pouco carinho do tempo e de quem a pisa a escurece e endurece. é a realidade de toda a pedra que se sujeita ao cruzamento apressado de quem partilha a mesma rua e não se conhece. a julieta do Dartacão agora chama-se floribela (não merece maiúscula). gostarias de mim, concerteza, se me tivesses conhecido outrora. teria aberto o baú ainda reluzente da pureza de se ser quem é. único e irrepetível ao invés de me multiplicar em todos os fantoches que vou sendo em cada lugar novo.
terias gostado.
choro.
continuar?
já não há estrada para andar.

2 comentários:

Anónimo disse...

por mais facetas que inventemos de nos proprios alma so temos uma, e essa estara sempre la, pronta para viver.***

p.s. ja tiravas o word verification :S

Anónimo disse...

perdemo-nos no que consideramos ser o que querem de nós...olha ara dentro, vive-te! Não vivas os outros...não vivas a Sara dos outros.. Encontra-te! Procura-te... Perde-te só quando valer a pena... Há sempre estrada... há sempre caminho... O mundo é redondo... ;)