Ah, que me metam entre cobertores,
E não me façam mais nada!...
Que a porta do meu quarto fique para sempre fechada,
Que não se abra mesmo para ti se tu lá fores!
Lã vermelha, leito fofo. Tudo bem calafetado...
Nenhum livro, nenhum livro à cabeceira...
Façam apenas com que eu tenha sempre a meu lado
Bolos de ovos e uma garrafa de Madeira.
Não, não estou para mais; não quero mesmo brinquedos.
P'ra quê? Até se mos dessem não saberia brincar...
Que querem fazer de mim com estes enleios e medos?
Não fui feito p'ra festas. Larguem-me! Deixem-me sossegar!...
Noite sempre p'lo meu quarto. As cortinas corridas,
E eu aninhado a dormir, bem quentinho - que amor!...
Sim: ficar sempre na cama, nunca mexer, criar bolor -
P'lo menos era o sossego completo... História! era a melhor das vidas...
Se me doem os pés e não sei andar direito,
P'ra que hei-de teimar em ir para as salas, de Lord?
Vamos, que a minha vida por uma vez se acorde
Com o meu corpo, e se resigne a não ter jeito...
De que me vale sair, se me constipo logo?
E quem posso eu esperar, com a minha delicadeza?
Deixa-te de ilusões, Mário! Bom édredon, bom fogo -
E não penses no resto. É já bastante, com franqueza...
Desistamos. A nenhuma parte a minha ânsia me levará
P'ra que hei-de então andar aos tombos, numa inútil correria?
Tenham dó de mim. C'o a breca! levem-me p'rá enfermaria -
Isto é, p'ra um quarto particular que o meu pai pagará.
Justo. Um quarto de hospital, higiénico, todo branco, moderno e tranquilo;
Em Paris, é preferível, por causa da legenda...
De aqui a vinte anos a minha literatura talvez se entenda;
E depois estar maluquinho em Paris fica bem, tem certo estilo...
Quanto a ti, meu amor, podes vir às quintas-feiras,
Se quiseres ser gentil, perguntar como eu estou.
Agora no meu quarto é que tu não entras, mesmo com as melhores maneiras...
Nada a fazer, minha rica. O menino dorme. Tudo o mais acabou.
Paris - 1915
Em homenagem a esse grande senhor que É Mário de Sá Carneiro.
Seu nome é Maria.
Ou o que lhe quiserem chamar.
Menina pequenina e ajeitada.
Menina pura, menina madura.
Menina alva.
Menina.
Outrora, talvez.
Que o tempo…
Esse… já lá vai.
De jeito enternecido
Enternecia os que a viam dançar.
E se é boato, não sei,
Mas sei que todos sem excepção
A recordam com um brilho no olhar.
Tal se recorda a si própria
Como se de outra estivesse a falar.
Ou de outras.
Que são duas afinal.
Está doente. E a sua doença parece ser mental.
(Discorda completamente.
E sabe, explicando-o assertivamente,
Que só pelos sonhos se morre
E só por eles se resiste.)
Pestana comprida, volumosa e escurecida
Olho triste.
Da mesma tristeza que carrega nas palavras
Com que me conta a história da sua vida.
Pele seca, estriada e enrugada.
Cabelo lavado,
Tal o resto de seu corpo maltratado.
Não perdera as maneiras de menina mimada.
Mãos pequenas, finas e magras
Desbocadas pelas picadas.
Toque suave, sapiente, subtil
Controlado.
Ar aluado.
Começa pelo ballet.
È o tema que mais lhe interessa.
Seus olhos afinal também sabem brilhar.
Suas palavras retomam qualquer sonoridade mágica
Esquece por instantes a sua história trágica
Põe-se, de novo, a falar.
Orgulhosa de si, não esconde a pressa.
E ergue-se, num rompante apenas, na ponta do pé.
Ao sucumbir à gravidade,
Volta à mudez habitual.
Ela é daquelas que não nasceu para vencer.
Para ser.
È sonhar o seu ritual
Para sobreviver à realidade.
Ela é um misto do que foi e do que era
Um reboliço entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito
Um põe-na a rir, o outro a chorar.
Ela é Maria, o espelho das almas que sonham demais.
E é dela que vos vou falar.
(Com a devida emoção, se me permitem.
Porque também eu me deixei encantar.)
Maria Perfeita nasce em família abastada
Com futuro seguro e educação aprimorada.
Sua mãe, culta por sinal,
Antevê em sua cria,
Uma artista sem igual.
De diferente das outras meninas,
Para além de beleza singular,
Tinha passos de bailarina
Desde que aprendeu a andar.
Apressou-se em lhe alimentar o sonho
Que orgulho vê-la dançar.
Gira uma, duas, várias vezes.
Depois estende os braços.
Dobra uma perna e depois a outra. Faz meia ponta.
Dá um passo em frente. Volta outro.
Ela quer é ser seguida.
Sabe o que faz.
Conhece-se bem.
Quer ser vista, admirada….
Ela sabe que todos anseiam aplaudi-la
Em qualquer noite, em qualquer dia
Do primeiro passo, ao apagar das luzes.
O sonho cresce. Eleva-se. Voa.
Insano, não mede consequências.
Seu corpo está cada vez mais ágil.
Flexível. Obediente. Apto.
Seus movimentos aperfeiçoados,
Mil vezes ensaiados, decorados…perfeitos.
Seus músculos colaborantes,
Treinados, adaptados, potentes.
Seu coração mais determinado,
Acelerado, oxigenado, apaixonado.
Só a dança faz parte do seu dia
E o sonho ganha forma de vida.
Sem grandes mistérios,
Já perceberam concerteza que a história não tem final feliz.
Era o dia da estreia.
O dia da sua estreia. O mais importante de todos os dias.
Luzes bem acesas,
Orquestra a acompanhar.
Todas pareciam, de facto, uma verdadeiras princesas,
Mas ninguém a podia igualar.
Encantou por cinco minutos,
Até o joelho direito a atraiçoar.
Uma mágoa para a vida,
Impossível de perdoar.
O Seu corpo condenara para sempre a sua alma.
Atirou-a para os escalabouços da madrugada
Nas esquinas que nunca ousara antes pisar.
Refugiou-se na droga,
A única amiga que a poderia salvar.
Entregou-se de corpo e alma.
Que se um era inimigo,
A outra tinha sido mutilada.
Nada havia a perder.
Só a esconder,
Esse ser hediondo em que se tornara.
O sonho permanecia.
E só ele a poderia salvar.
Ela sabia que os drogados morrem.
Em esquinas fedorentas, normalmente.
Mas a alma recompunha-se a cada dose
O Ser Humano é fraco
Porque é que ela tinha que ser forte?
O corpo…esse que morra mesmo.
Pouco ou nada ela queria saber.
Bastava-lhe uns minutos a acreditar
Que poderia voltar a dançar.
Aos poucos a figura ficava informe
O seu joelho era o menor dos seus problemas.
Estava fraca. Subnutrida.
Vivia em função de uma rotina arruinada pela dependência.
Viver para consumir
Sem pensar e sem nada sentir.
Abandonou-se.
Como todos os drogados.
O seu corpo tinha sido o culpado.
Quase que se matava, não fosse a dança.
No hospital, onde tantas vezes foi parar,
E de onde tantas outras acabou por fugir
Houve quem lhe apresentasse as mais diversas alternativas.
Recusou-as. A todas.
Incessante e inconsequentemente.
Houve um ponto, em que relata,
Desistiu até da alma.
Consumia para a overdose.
Queria morrer desesperadamente
Aqui, ali ou acolá,
Ela queria morrer urgentemente.
Faltaram-lhe sempre as forças para se matar.
Quisera faze-lo indefinidas vezes.
Maria Imperfeita ainda acabou por tentar.
Mais mazelas no seu corpo sofrido,
Mais buracos para remendar,
Mais obstáculos para enfrentar.
A certa altura dá por si a acordar numa cama estranha.
O inferno não tem camas.
E se aquilo não era o inferno,
Então onde teria ido ela parar?
Passado umas horas,
Recomposta da (pouca) lucidez que ainda lhe restava
Informaram-na que estava louca.
Sim, porque internarem alguém num hospital psiquiátrico
É carimbar-lhe na testa a palavra “maluquinho”.
E Maria não era maluquinha.
Era uma pessoa amargurada.
Sim.
Azarada.
Mal aventurada.
Mal amada, também.
Sua mãe morrera de doença ruim pouco depois da primeira tragédia da sua vida.
Seu irmão ignorava-a.
Seu pai nem dele sabia.
Restava-lhe o alento que a droga lhe trazia.
E ali não havia droga.
Havia cama, é certo.
Mas não havia droga…
Ali permaneceu.
Hoje cumpre rotinas e está empenhada na sua reabilitação.
Há quase sete meses sóbria, enfrenta o maior dos desafios da sua vida,
Amar-se. À alma e ao corpo. Com a meninice que ainda traz no coração.
Diz ter reencontrado a lucidez, ao som duma caixinha de música que uma enfermeira lhe ofereceu. Reconhece tudo aquilo que perdeu.
O espelho é agora o maior fantasma.
A figura desfigurada é-lhe completamente desconhecida.
Rodopia nas memórias, nas figuras que assumiu.
Estão amarradas ao que vê,
Como se presas por uma corda.
Não se sente ainda.
Mas sente-se em casa na Fisioterapia.
Há música, há dança.
Há alegria.
E ali, ela de facto, pode dançar.
Hoje está feliz por não ter sabido
A forma como tudo acabaria
A forma como tudo aconteceria.
De facto, as nossas vidas estão melhor sob o acaso.
Poderia ter perdido a dor
Mas teria que ter perdido a Dança
Ou o que lhe quiserem chamar.
Menina pequenina e ajeitada.
Menina pura, menina madura.
Menina alva.
Menina.
Outrora, talvez.
Que o tempo…
Esse… já lá vai.
De jeito enternecido
Enternecia os que a viam dançar.
E se é boato, não sei,
Mas sei que todos sem excepção
A recordam com um brilho no olhar.
Tal se recorda a si própria
Como se de outra estivesse a falar.
Ou de outras.
Que são duas afinal.
Está doente. E a sua doença parece ser mental.
(Discorda completamente.
E sabe, explicando-o assertivamente,
Que só pelos sonhos se morre
E só por eles se resiste.)
Pestana comprida, volumosa e escurecida
Olho triste.
Da mesma tristeza que carrega nas palavras
Com que me conta a história da sua vida.
Pele seca, estriada e enrugada.
Cabelo lavado,
Tal o resto de seu corpo maltratado.
Não perdera as maneiras de menina mimada.
Mãos pequenas, finas e magras
Desbocadas pelas picadas.
Toque suave, sapiente, subtil
Controlado.
Ar aluado.
Começa pelo ballet.
È o tema que mais lhe interessa.
Seus olhos afinal também sabem brilhar.
Suas palavras retomam qualquer sonoridade mágica
Esquece por instantes a sua história trágica
Põe-se, de novo, a falar.
Orgulhosa de si, não esconde a pressa.
E ergue-se, num rompante apenas, na ponta do pé.
Ao sucumbir à gravidade,
Volta à mudez habitual.
Ela é daquelas que não nasceu para vencer.
Para ser.
È sonhar o seu ritual
Para sobreviver à realidade.
Ela é um misto do que foi e do que era
Um reboliço entre o pretérito perfeito e o pretérito imperfeito
Um põe-na a rir, o outro a chorar.
Ela é Maria, o espelho das almas que sonham demais.
E é dela que vos vou falar.
(Com a devida emoção, se me permitem.
Porque também eu me deixei encantar.)
Maria Perfeita nasce em família abastada
Com futuro seguro e educação aprimorada.
Sua mãe, culta por sinal,
Antevê em sua cria,
Uma artista sem igual.
De diferente das outras meninas,
Para além de beleza singular,
Tinha passos de bailarina
Desde que aprendeu a andar.
Apressou-se em lhe alimentar o sonho
Que orgulho vê-la dançar.
Gira uma, duas, várias vezes.
Depois estende os braços.
Dobra uma perna e depois a outra. Faz meia ponta.
Dá um passo em frente. Volta outro.
Ela quer é ser seguida.
Sabe o que faz.
Conhece-se bem.
Quer ser vista, admirada….
Ela sabe que todos anseiam aplaudi-la
Em qualquer noite, em qualquer dia
Do primeiro passo, ao apagar das luzes.
O sonho cresce. Eleva-se. Voa.
Insano, não mede consequências.
Seu corpo está cada vez mais ágil.
Flexível. Obediente. Apto.
Seus movimentos aperfeiçoados,
Mil vezes ensaiados, decorados…perfeitos.
Seus músculos colaborantes,
Treinados, adaptados, potentes.
Seu coração mais determinado,
Acelerado, oxigenado, apaixonado.
Só a dança faz parte do seu dia
E o sonho ganha forma de vida.
Sem grandes mistérios,
Já perceberam concerteza que a história não tem final feliz.
Era o dia da estreia.
O dia da sua estreia. O mais importante de todos os dias.
Luzes bem acesas,
Orquestra a acompanhar.
Todas pareciam, de facto, uma verdadeiras princesas,
Mas ninguém a podia igualar.
Encantou por cinco minutos,
Até o joelho direito a atraiçoar.
Uma mágoa para a vida,
Impossível de perdoar.
O Seu corpo condenara para sempre a sua alma.
Atirou-a para os escalabouços da madrugada
Nas esquinas que nunca ousara antes pisar.
Refugiou-se na droga,
A única amiga que a poderia salvar.
Entregou-se de corpo e alma.
Que se um era inimigo,
A outra tinha sido mutilada.
Nada havia a perder.
Só a esconder,
Esse ser hediondo em que se tornara.
O sonho permanecia.
E só ele a poderia salvar.
Ela sabia que os drogados morrem.
Em esquinas fedorentas, normalmente.
Mas a alma recompunha-se a cada dose
O Ser Humano é fraco
Porque é que ela tinha que ser forte?
O corpo…esse que morra mesmo.
Pouco ou nada ela queria saber.
Bastava-lhe uns minutos a acreditar
Que poderia voltar a dançar.
Aos poucos a figura ficava informe
O seu joelho era o menor dos seus problemas.
Estava fraca. Subnutrida.
Vivia em função de uma rotina arruinada pela dependência.
Viver para consumir
Sem pensar e sem nada sentir.
Abandonou-se.
Como todos os drogados.
O seu corpo tinha sido o culpado.
Quase que se matava, não fosse a dança.
No hospital, onde tantas vezes foi parar,
E de onde tantas outras acabou por fugir
Houve quem lhe apresentasse as mais diversas alternativas.
Recusou-as. A todas.
Incessante e inconsequentemente.
Houve um ponto, em que relata,
Desistiu até da alma.
Consumia para a overdose.
Queria morrer desesperadamente
Aqui, ali ou acolá,
Ela queria morrer urgentemente.
Faltaram-lhe sempre as forças para se matar.
Quisera faze-lo indefinidas vezes.
Maria Imperfeita ainda acabou por tentar.
Mais mazelas no seu corpo sofrido,
Mais buracos para remendar,
Mais obstáculos para enfrentar.
A certa altura dá por si a acordar numa cama estranha.
O inferno não tem camas.
E se aquilo não era o inferno,
Então onde teria ido ela parar?
Passado umas horas,
Recomposta da (pouca) lucidez que ainda lhe restava
Informaram-na que estava louca.
Sim, porque internarem alguém num hospital psiquiátrico
É carimbar-lhe na testa a palavra “maluquinho”.
E Maria não era maluquinha.
Era uma pessoa amargurada.
Sim.
Azarada.
Mal aventurada.
Mal amada, também.
Sua mãe morrera de doença ruim pouco depois da primeira tragédia da sua vida.
Seu irmão ignorava-a.
Seu pai nem dele sabia.
Restava-lhe o alento que a droga lhe trazia.
E ali não havia droga.
Havia cama, é certo.
Mas não havia droga…
Ali permaneceu.
Hoje cumpre rotinas e está empenhada na sua reabilitação.
Há quase sete meses sóbria, enfrenta o maior dos desafios da sua vida,
Amar-se. À alma e ao corpo. Com a meninice que ainda traz no coração.
Diz ter reencontrado a lucidez, ao som duma caixinha de música que uma enfermeira lhe ofereceu. Reconhece tudo aquilo que perdeu.
O espelho é agora o maior fantasma.
A figura desfigurada é-lhe completamente desconhecida.
Rodopia nas memórias, nas figuras que assumiu.
Estão amarradas ao que vê,
Como se presas por uma corda.
Não se sente ainda.
Mas sente-se em casa na Fisioterapia.
Há música, há dança.
Há alegria.
E ali, ela de facto, pode dançar.
Hoje está feliz por não ter sabido
A forma como tudo acabaria
A forma como tudo aconteceria.
De facto, as nossas vidas estão melhor sob o acaso.
Poderia ter perdido a dor
Mas teria que ter perdido a Dança
Sedendo manselinha, d'aquen onde pensar é triste
Agradeço-vos, amigo, os olhos com que me viste
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
Sedendo manselinha, já sem ser triste o pensar
Ouvi-vos, amigo, com doces palavras que tiveste para me cantar
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
Permita-me a verdade, que não se faz a uma donzela
Roubar-lhe a atenção sem saber que mundo é o dela
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
Permita-me a ousadia, que não se faz a uma senhorita
Roubar-lhe o coração e não lhe haver dito mais nada todo o dia.
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
Será então a lua, a testemunha de tais pecados
Se meu amigo quiser ser o meu amado.
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
Será então Mestre de Avis, cúmplice de tal alegria,
Se meu amado quiser passar comigo o final deste dia.
Ides vós querer reveer
A quen quer o vosso ben?
cito
"por mais facetas que inventemos de nós próprios, alma só temos uma, e essa estara sempre lá...pronta para viver."
Paula Cardoso
Intriga
palavra açoitada
cuspida e maltratada
palavra de memória amarga.
palavra cumplíce,
palavra do diz que disse.
a palavra de sinónimo atroz
o lado verdadeiro da mentira.
sempre,
na mesma esquina,
praceta ou colina,
no mesmo patamar
de desnível caído
roído e traído
no mesmo rancor
da sempre e eterna falsa verdade...
cuspida e maltratada
palavra de memória amarga.
palavra cumplíce,
palavra do diz que disse.
a palavra de sinónimo atroz
o lado verdadeiro da mentira.
sempre,
na mesma esquina,
praceta ou colina,
no mesmo patamar
de desnível caído
roído e traído
no mesmo rancor
da sempre e eterna falsa verdade...
de volta ao ponto de partida. aquando da chegada, vorazmente eduzo que nada mudou. alçadas fronteiriças são como erva daninha. não haverá tempo de ausência que me devolva a compreensão.
|O fado é tudo o que eu digo, mais o que eu não sei dizer|
Almas vencidas
Noites perdidas
Sombras bizarras
Na mouraria
Canta um rufia
Choram guitarras
Amor ciúme
Cinzas e lume
Dor e pecado
Tudo isto existe
Tudo isto é triste
Tudo isto é fado
Aníbal Nazaré
cobiçando-me
cobiço-me.
daquela raiva que até dá dor.
transponho-me.
dou-me ao vento de ardor no peito.
estranho-me,
e devagar recuso-me no meu leito.
cortinas de areia,
frágeis como o meu saber.
vis.
vãs.
de sabor a hortelã.
encaixo-me.
repouso.
reclino-me e depois lá pouso.
aceito, de mau grado ainda
a sóbria noção da minha riqueza
reclinos de alma, na aceitação da minha estranheza.
daquela raiva que até dá dor.
transponho-me.
dou-me ao vento de ardor no peito.
estranho-me,
e devagar recuso-me no meu leito.
cortinas de areia,
frágeis como o meu saber.
vis.
vãs.
de sabor a hortelã.
encaixo-me.
repouso.
reclino-me e depois lá pouso.
aceito, de mau grado ainda
a sóbria noção da minha riqueza
reclinos de alma, na aceitação da minha estranheza.
pensamento da noite
que no meu pecado te compadeças e me abençoes. de amor se fazem anjos e guerreiros, e só tu podes escolher o teu caminho.
exíguo de compaixão, entende só a graça de honrar o pecado. há fado mais triste que carregar a dor de ser feliz? entende-lo-ás ora eu abençoada. punida seja a lei que sirva para punir, tal a mesma que te venha da benção daqueles que não soubeste proteger.
sonhos em banho maria
em hora de leito solitário,
sonhos me trazem a fugaz lembrança.
cor de céus entardecidos, pela imparidade da tua presença.
cheiros quentes a Verão, como o palco de todas as tuas histórias.
registos da minha doença, no diário das tuas memórias.
da ode do teu papel amachucado, se fez lira cantada ao meu ouvido.
do sabor da tua boca amarga, vingo a saudade em vício
apazíguo de cada sentido, naquele que ainda o ponteiro aponta como o início.
se desfaz,
na luz dos sonhos.
se desfaz. em passos dados em volta do mesmo entardecer. que ele será sempre igual ao daquelas tardes a ouvir o pica-pau e o acasalar das cegonhas. que ela virá depois. que as formigas na cidade será sempre a tua obra de arte. que os cadernos pretos são os de verdadeiro escritor. e compositor. de liras que só eu sei.
se recompõe,
em luz do dia.
se recompõe. anseios de pela idade, um dia te voltar a encontrar. e que de tudo não sobre mais nada que o veredicto por ti ditado. que dito eu em força de grito único quetambém em ti tudo é belo. que contigo se palmilha o mundo a chinelo. que eu contigo irei descalça.
tamanho amor que só assim eu posso falar.
sonhos me trazem a fugaz lembrança.
cor de céus entardecidos, pela imparidade da tua presença.
cheiros quentes a Verão, como o palco de todas as tuas histórias.
registos da minha doença, no diário das tuas memórias.
da ode do teu papel amachucado, se fez lira cantada ao meu ouvido.
do sabor da tua boca amarga, vingo a saudade em vício
apazíguo de cada sentido, naquele que ainda o ponteiro aponta como o início.
se desfaz,
na luz dos sonhos.
se desfaz. em passos dados em volta do mesmo entardecer. que ele será sempre igual ao daquelas tardes a ouvir o pica-pau e o acasalar das cegonhas. que ela virá depois. que as formigas na cidade será sempre a tua obra de arte. que os cadernos pretos são os de verdadeiro escritor. e compositor. de liras que só eu sei.
se recompõe,
em luz do dia.
se recompõe. anseios de pela idade, um dia te voltar a encontrar. e que de tudo não sobre mais nada que o veredicto por ti ditado. que dito eu em força de grito único quetambém em ti tudo é belo. que contigo se palmilha o mundo a chinelo. que eu contigo irei descalça.
tamanho amor que só assim eu posso falar.
tontura
costumices e mariquices, atacando o meu planeta improvisado. não há tempo ainda para levantar e pensar no certo, já o pecado espreita ao lado. e roda no ponteiro desconsertado desta minha paciência já sem conserto, também. e refastelo-me no sofá pensando que também lá fora gira o mundo. e depois lá vem a mariquice da preguiça ora sem conserto também. aí não há hipótese, como se ao fechar da pestana pesada tudo girasse ao contrário. e depois saem-me sempre as palavras meio embriagadas. é da tontura a que a minha fortuna de vida se sujeita. logo em banheira cheia, a mesma pestana não tarda a levantar. apodero-me dela, para me lavar. da água que nem espada traça. a mesma que me devolve a visão.
e tudo volta a girar. porque é já sempre a mesma rotina.
para um lado.
para outro.
e tudo volta a girar. porque é já sempre a mesma rotina.
para um lado.
para outro.
funeral de borboletas
cemitérios de pranto, aqueles onde elas foram parar. não mereciam tamanho fim, coitadinhas. Eram símbolo de paixão antiga. alegres e dedicadas, recordo-as sempre a brincar. voavam sem parar. nesses tombos que faziam comichão na barriga, sinapsavam com o espertinho do coração. e assim fui andando e me fui habituando. não me lembro de as ter criado mas assisti à sua tranformação. ingratas por si, cansaram-se de mim. cumpriram sempre a sua missão: lembrarem-me o quanto gostava de ti.
e em homenagem as relembro:
Pupa, a mais nova. ainda em estado de criação, era a mais habilidosa. Conseguiu feitos incalculáveis em período de reintegração. lembrou-me o melhor de mim. apresentou-me o melhor de ti. foi-se nova, excesso de alucinação. arriscou, perdeu o norte, fechou as asas e morreu. enterrada lá pós lados da perdição.
Larva, nome horrível. Feitio igual. boa índole, ainda assim. picava hostilmente o meu orgulho. tratava-me na mesma categoria de ignóbil devassa como sempre também tu me categorizaste. e trataste. não lhe sinto a falta. mataste-a com sorriso sincero. arde em chamas no cemitério da minha amargura.
Mitose, a derradeira,a primeira. de dupla personalidade, tal qual tu. de impresssão errada, de nada tardava a impressionar-me. definia-se em ambiguidade. e o que eu gostava. a larva matou-a. lembro-lhe graça e lágrima e se há qual de que mais me lembro, é dela concerteza. metade no cemitério de sonhos ficou guaradada. da restia metade se ensombrou o musgo que corroeu a lápide. por vezes lá vagueio mas não lhe trago saudade.
Borboleta, a mais bonita...tal o amor à primeira vista. aquele que me cativou e em mim te guardou. destacava-te entre os demais, pela efemeridade de tão imponente bater de asas. de tão vaidosa, fugiu. não resistiu e morreu. descansa em paz na cama branca junto à inveja de todas aquelas que a olharam. retrato das tuas outras também. se me embebia em tão mortais pecados, eu nunca com tal me importei. sem dúvida, a que mais gostei. repousa nos lados da fantasia, em cemitério antigo e de beleza a condizer.
em funerais separados pelo tempo, foram-se todas. transladei-as para o coração. transformei-o, sem querer, num cemitério de borboletas, as borboletas da minha paixão.
três em falsete
ele e tu,
na minha mente baralhada.
confusões de minh'alma
guardadas em pacificos esconderijos
nunca antes tocados nem imaginados
hoje destruídos
amanhã talvez reinventados
embarco no barco da aventura,
aquele que foi sempre o meu pecado.
é o ruir da tela luxuosa
desvaindo-se em choros amargos.
são falsetes de cantigas antigas,
traiçoeiras de outros fados,
longe do palmilhar porquem mendigas.
dele pouco falo
há o consagrar do meu pudor.
crepitações de ritmo já arritmico
adoçando o tédio de te lembrar.
palpito. depois sinto.
repito e ponho-me a chorar.
a qual dos três será que minto?
na minha mente baralhada.
confusões de minh'alma
guardadas em pacificos esconderijos
nunca antes tocados nem imaginados
hoje destruídos
amanhã talvez reinventados
embarco no barco da aventura,
aquele que foi sempre o meu pecado.
é o ruir da tela luxuosa
desvaindo-se em choros amargos.
são falsetes de cantigas antigas,
traiçoeiras de outros fados,
longe do palmilhar porquem mendigas.
dele pouco falo
há o consagrar do meu pudor.
crepitações de ritmo já arritmico
adoçando o tédio de te lembrar.
palpito. depois sinto.
repito e ponho-me a chorar.
a qual dos três será que minto?
I Sometimes Wish I Was Dead
New sound all around
You can hear it too
Getting hot, never stop
Just for me and you
Playing on my radio and saying that you had to go
New day turn away
Wipe away the tear
New night, feel right
Knowing that you're here
Dancing with you all the time, and don't you think that it's a crime
Back street never meet
Never say goodbye
I know where you go
But I don't know why
You say that it's from above, and I say this is modern love
Depeche Mode
Um dia destes
Um dia destes vou seguir o meu fascínio. Será a pomba a voar em asfixia de liberdade. Um dia destes vou arrancar de vez a excepção que a regra confirma e não vou ficar sem ti. Um dia destes vou nomear a minha frustração de bofetada sem mão. Um dia destes vou queimar todos os meus soutiens na chama com que te vou também iluminar. Vou olhar. Um dia destes vou cair morta nos estilhaços deste ardor no peito. Vou cair nos teus braços. Um dia destes vou-me arrepender de tudo isto. E do isto que um dia destes farei. Vou sentar-me em bancos de jardins sem flores, com hábitos e maneiras disfuncionais. Um dia destes vou decorar o meu leito de marfim com lençóis adulterados, sujos e rasgados do mesmo amargor que o meu, que não tem fim. Um dia destes vou acordar cedo e sorrir. O sonho terá sido bom. Um dia destes passa tudo e quando abrir os olhos perceberei que não estou só. Um dia destes acredito em mim e vou até ao fim. Um dia destes farei tudo isto e mais ainda. Tudo isto que nem um dia destes acabarei. Um dia destes vou gritar com a vizinha para ela ver o que é barulho. Um barulho que não deixa dormir. Um dia destes mando-o embora com a solidão. Eu ficarei deitada e sossegada apenas no desassossego da paixão. Um dia destes vou escrever-te uma carta e digo-te tudo o que tenho para dizer de vez. Para saberes. Para conseguir dormir. Um dia destes…talvez.
pensamento da noite
Sounds of laughter, shades of love are ringing through my opened mind
Inciting and inviting me.
Limitless undying love,
which shines around me like a million suns,
And calls me on and on across the universe
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Nothing's gonna change my world
Across the universe.Beatles
percebi que...
...o que eu ontem achei importante, hoje acho banal e, amanhã, decerto já esqueci. sou assim. o importante encaixoto no vazio do ontem. talhado à medida do ideal fica, sempre e só, o amanhã. escritos em panfletos perdidos por aí, ficam significâncias de sonhos retalhados. recostada na lareira quente penso no livro de retalhos. colinas de calinadas a resguardar a melancolia. só. que a memória falha na missão e esses papéis deitados ao vento, escritos a linguagem que não sei entender, jamais serão a história. souvenirs em forma de panfletos coloridos ou tristes, são esses os passados dias da minha vida. sinto que hoje sou apenas...o nada do que ficou de ontem...o tudo que será amanhã...
...amanhã...
...esse amanhã que não existe.
caseira dos meus sonhos
Pedregulhos de gente, esta gente que conheci por cá. sempre rodeada do frio mármore, que muitos guarnecem as suas janelas, nunca conheci ninguém que permitisse que também lhe guarnecesse o coração. nem na minha pequena província pacata e humilde. gélida e frígida se apresenta esta gente. irte na minha consistÊncia humana, aprendi valores. nem sempre com a melhor gente é certo, mas prezei-os, sempre, tanto quanto prezo o telhado do edificio que construí ao longo desta minha candidatura à super engenheira da razão. é ele o traço na régua vertical que indica o meu patamar. cada andar destinou-se sempre a rentabilizar novas aprendizagens, novas consciêncializações. são escritórios onde não entra burocracia. vivem em liberdade, todos esses valores...vivem para se trabalharem e tudo lhes é pago em "pózinhos de perlim pim pim". são diamantes em bruto em processo de volatização. tão certos como a incerteza com que olho para mim. e depois olho para vocÊs. e depois para mim. e depois para cada um de vocês e depois...depois invejo-te a vivenda imponente que a tua divisa pseudo-doutorada te cedeu. da janela dos fundos, paisagem do meu "canto", te vejo azafamada em redor de evidências do parkinsonismo, em redor de copos de Porto importado, em trajes de gente séria a correr atrás da tua sombra, tal qual o Peter Pan. Espero assistir, deste mesmo canto da casa que me cedeste, ao momento em que alguém, desses iguais a ti, te volte a coser à tua sombra. eu, em tom de caseira honesta, na casa onde tu és o patrão...cumprirei o meu dever de submissão. assistirei ao apagar das velas e à entrada do ladrão. de olho magoado e traído estará a sombra acenando adeus. das garras da escuridão nenhum resgate te a pode salvar e nem todo o ouro que desfilas poderão alguma vez alumiar de novo o rasto de ti. na casa de caseira, onde me deixaste à chuva das lágrimas, fiz as poupanças da vida. comprei com elas o material do meu edificio de andares. tão alto já vai como foram sempre os meus sonhos. tem janelas por todo o lado e música que chegue para não te ouvir. tem alicerces coesos de uma família sem dinheiro mas com educação. tem ninhos de andorinhas a espalhar merda pelo fachada da frente. tem um telhado tão longe que não cabe no meu ângulo de visão. tem cores e vida, balas cravadas e drogados do lado de trás. tem esfomeados à porta que vendem pipocas e algodão doce. tem pessoas a entrar e a sair. tem escritórios a fechar e abrir. uns a mudar de lugar e outros dispostos ao trespasse. todos regateados contigo, mas todos vieram ter à minha mão. segurei-os. guardei-os e dei-lhes utilização. gestora dos meus sonhos, escolhi o bairro da imaginação. prefiro o arranha céus da fantasia, à vivenda da escuridão. e ainda em posição de criadita ignóbil que não tem acesso à frontaria da pseudo mansão, te convidarei um dia para visitares o terraço da minha imaginação. a encher o olho estarão as tuas falhas como ser humano.
o teu tecto tem telhas de barro. o meu tem pipocas coladas com caramelo.
o teu tecto tem telhas de barro. o meu tem pipocas coladas com caramelo.
retrato
todo o gosto do mundo que o amor tem, não passam de meros retratos na minha moldura mental de tudo aquilo que perdi. suplico a Deus, que guardo para mim numa fusão de todas as revoluções e pecados, partidos e crenças com o que, de facto, compõe o meu estar. suplico pois. suplico por mais e recordo ainda...recordo os jazigos onde os meus sonhos se desfazem. a preto, em contraste com o branco da pedra fria, se evoca amor...são jazigos iguais aos teus. tão sujos que não dá para se decifrar. retrato, não passas disso. em gaveta amontoada, pesada como o peso do peso de sentir. no armário lá do fundo que se figura num cemitério de paixões, estás tu na gaveta das esquecidas.
sinto-me estranha.matar o que nunca foi, além de sublime tudo tem de absurdo. tal como eu e todos os tus amontoados no cemitério, em gavetas de jazigos sujos.
Love (Changes)
pensamento da noite
"A violência, seja qual for, foi sempre para mim uma forma esbugalhada de estupidez humana."
Livro do Desassossego, Fernando Pessoa
'Amor(ó)Terapia'
Dizem que faz comichão. Dizem também que levanta os pelinhos dos braços. Que nos acorda a meio da noite a sorrir e a transpirar, que nos absolve de crimes tão despojados de sensibilidade como a gula ou a avareza. Já ouvi histórias que relatavam a levitação. não dos pés, esses são pesados e obedientes à gravidade. do espiríto. também me explicaram, de seguida, (que eu sou curiosa), que se descobrem significÂncias novas para o que é o espirito, ou a alma..."é daquelas coisas que se sente". depois li em livros que é se estivessemos a arder por dentro. que dói. que mata. é químico, definido por pseudo-cientistas apaixonados. depois há os que sonham com borboletinhas e relatam tudo em poesia. enfim...como qualquer outra patologia, uma infinidade de sintomas que alteram por completo a tão banal rotina da vida diária. das poucas epidemias que a humanidade nunca se imunizou. combate as defesas de qualquer um. até de mim...que depois de investigar reuni as evidÊncias necessárias para o meu diagnóstico. sofro do pior dos males. o mal do coração.
uma gota e um cigarro
não sei porque o escreveu...alguém o disse e aconteceu.
em quimera de verde campo, a semente de flor se compadeceu.
riso instante, pele madura
luz serena, aroma de ternura
uma escolha que ninguém nunca entendeu.
um cigarro e mais outro. e outro e um maço.
um fumo que escurece tudo por onde passo.
uma corrente no meu pescoço e mais um enfeite desproporcional
a pobreza não advém apenas da virilidade do evitável
às vezes a chuva encharca o inimaginável.
adoeceu como se esperava. rebentamento de sistemas.
do coraçao ao libidinal.
uma gota e mais outra. e outra e um choro pegado.
canto de gente triste, fora do tempo e em compasso errado.
riscos descordenados a disfarçar o novo olhar.
aqui, ali ou acolá, há sempre um rosto que se refaz
um soldado morto. um eremita. um capataz.
um nada de nada. uma lua despojada de vergonha.
uma borboleta fora do lugar.
uma gota e um cigarro,
numa noite que não acaba.
em quimera de verde campo, a semente de flor se compadeceu.
riso instante, pele madura
luz serena, aroma de ternura
uma escolha que ninguém nunca entendeu.
um cigarro e mais outro. e outro e um maço.
um fumo que escurece tudo por onde passo.
uma corrente no meu pescoço e mais um enfeite desproporcional
a pobreza não advém apenas da virilidade do evitável
às vezes a chuva encharca o inimaginável.
adoeceu como se esperava. rebentamento de sistemas.
do coraçao ao libidinal.
uma gota e mais outra. e outra e um choro pegado.
canto de gente triste, fora do tempo e em compasso errado.
riscos descordenados a disfarçar o novo olhar.
aqui, ali ou acolá, há sempre um rosto que se refaz
um soldado morto. um eremita. um capataz.
um nada de nada. uma lua despojada de vergonha.
uma borboleta fora do lugar.
uma gota e um cigarro,
numa noite que não acaba.
pensamento da noite
"há duas formas distintas de estar em casa: uma, permanecendo nela, e a outra, reencontrá-la depois de estar fora. ainda assim, sentimo-la mais nossa quando nos encontramos fora dela."
são como a súplica da digestão do coração
são como crianças agitadas
de costas pesadas e bem aprumadas
são como velas quase a apagar
uma luz mais forte que a de qualquer luar
são como revistas mil vezes folheadas
as que sobram de entre todas as já rasgadas
são como a saudade dos marinheiros em alto mar
a que dói mais que o medo de naufragar
são como todas as moedas em anos amealhadas
avarezas do passado por nada já trocadas
são como cd's riscados de tanto girar
têm todas as músicas que de cor sabemos soletrar
são como mortalhas subtilmente desbocadas
falam de todas as outras que já foram fumadas
são como os balões que se escapam pelo céu a voar
impiedosos na coragem de por um bebé a chorar
são como tudo de todos os meus pequenos nadas
são como a inveja que o arco irís tem de todas as cores do luar
são como as bruxas más dos contos de fadas
são como a melhor de todas as camas sem almofadas
sem sol de manhã e sem bocas já beijadas
são como a dor de beber galões a escaldar
são como os desenhos das vacas malhadas
são como os loucos que acreditam que as psicoses podem estabilizar
são como todos os berlindes que não me deixaram guardar
são como todas as mentiras que não tardam a sufocar
as palavras...
...são como as palavras
...as palavras que me apetece vomitar.
de costas pesadas e bem aprumadas
são como velas quase a apagar
uma luz mais forte que a de qualquer luar
são como revistas mil vezes folheadas
as que sobram de entre todas as já rasgadas
são como a saudade dos marinheiros em alto mar
a que dói mais que o medo de naufragar
são como todas as moedas em anos amealhadas
avarezas do passado por nada já trocadas
são como cd's riscados de tanto girar
têm todas as músicas que de cor sabemos soletrar
são como mortalhas subtilmente desbocadas
falam de todas as outras que já foram fumadas
são como os balões que se escapam pelo céu a voar
impiedosos na coragem de por um bebé a chorar
são como tudo de todos os meus pequenos nadas
são como a inveja que o arco irís tem de todas as cores do luar
são como as bruxas más dos contos de fadas
são como a melhor de todas as camas sem almofadas
sem sol de manhã e sem bocas já beijadas
são como a dor de beber galões a escaldar
são como os desenhos das vacas malhadas
são como os loucos que acreditam que as psicoses podem estabilizar
são como todos os berlindes que não me deixaram guardar
são como todas as mentiras que não tardam a sufocar
as palavras...
...são como as palavras
...as palavras que me apetece vomitar.
pensamento da noite
(...)
"And all their hearts were as one heart.
And all their voices were as one voice."
(...)
Notes to the future- Patti Smith
pensamento da noite
"eu cá sou mentiroso por naturalidade
não sou daqueles manhosos que só dizem as verdades"
Jorge Palma
preto
em dia de chuva, lá fora encostado
abraças a folha caída da estação
envolves a cena num céu enrugado
fantasma do sol na palma da tua mão
silÊncios de outono, que a primavera retraz
no brilho da chuva que na aurora se desfaz
tu financias o rosto cansado
de mais um calendário para o lixo atirado
vejo-te assim, distante e ousado
como a bala de cravo de um outro revolucionário
acordas-me a meio de um sono há tanto perdido
enfureces-me de raiva baixinho ao ouvido
da gula ressalta um beijo longínquo,
a luxúria a quem a chuva encharca a alma.
engoles a ira em goles de vinho
bebado da rua, com trapos de linho.
luxaste a imagem de quem nunca sonhou
avareza turvada de orgulho.
camuflada e sem fazer barulho
senta-se comigo em profunda calma
a inveja, o pecado que me matou.
abraças a folha caída da estação
envolves a cena num céu enrugado
fantasma do sol na palma da tua mão
silÊncios de outono, que a primavera retraz
no brilho da chuva que na aurora se desfaz
tu financias o rosto cansado
de mais um calendário para o lixo atirado
vejo-te assim, distante e ousado
como a bala de cravo de um outro revolucionário
acordas-me a meio de um sono há tanto perdido
enfureces-me de raiva baixinho ao ouvido
da gula ressalta um beijo longínquo,
a luxúria a quem a chuva encharca a alma.
engoles a ira em goles de vinho
bebado da rua, com trapos de linho.
luxaste a imagem de quem nunca sonhou
avareza turvada de orgulho.
camuflada e sem fazer barulho
senta-se comigo em profunda calma
a inveja, o pecado que me matou.
recolhendo-me
é hora da recolha lá em baixo. e em mais uma incursão àquela que será hoje conhecida como a avenida mais "visitada" de toda esta cidade...é engraçado e triste observar com tamanha ousadia a outra perspectiva da coisa. são duas em ponto daqui de onde vos retrato e ainda há pouco, quando terminada a minha tarefa escolar que tamanhos arrepios já me faz nas entranhas...esbarrei com vocês naquela passadeira onde parei. iam apressadas para a carrinha comprida igual àquelas carrinhas azuis de sirene ligada. também ali havia uma sirene que apontava horas de retirada. da rua. a mesma onde vos encontrei e me arrepiei. da cabeça percorreu a espinha e espetou no coração. de uma só faísca iluminou-vos os olhos. e eu vi. vi, juro que vi. o rosto de quem se esvai em orgasmos múltiplos numa só noite. vêm em horas diferentes e a preço descontinuo. vêm sempre porque alguém quer. são fingidos como os sorrisos que fazem sempre que as luzes de um qualquer carro vos aponta. Matriculdas por uma carrinha onde alguém é o chefe, ganham honorários de sobrevivência neste mundo que também é meu. que podridão retrato em mim agora. o de alguém que passou e apenas reparou. vendo-me a estatutos e cobardias e assim me vou inserindo no saco grande da maioria. de todos os que vão estar suficientemente desocupados e "adaptados" para ler esta porcaria. são as patologias´oculares desta minha nova condição. rendermo-nos aos demais está para além do poder do astigmatismo ou da miopia. é a realidade a converger para um estrabismo social. termos técnicos aplicados quando já se perdeu o que só vê o coração. e se vocês estão fora do saco do senhor da carrinha grande...eu cá vos digo que vim a pensar que há saco maior que carrinha dele em que todos temos um espaço para o nosso saco. no grande cabem todos os nossos conceitos de humanismo...nos pequenos cabem os nossos conceitos de prostituição.
gosto de viver na desarrumação. de desorganizar tudo e reiventar utilidades. fazer das folhas soltas que trouxe da escola um novo cinzeiro descartável. da impressora imponente instalada em cima da secretária talvez o lugar ideal para despojar a tralha da noite anterior. e da cama que outrora foi para dormir, reinventa-se um novo armário para dossiers e roupa, livros e sapatos, um bandolim esquecido e de corda partida, um espaço novo para o meu canário...os cds amontoam-se pela casa toda. ou pelo carro. ou pelas casas dos outros. talvez pelos carros também. escrito no frigorifíco está o número de telemóvel de um "não sei quem és". talvez fosse uma chamada importante a fazer. talvez. talvez. talvez não também. os relógios acertaram outra vez, quando os senhores não sei quem cumpriram a tradição do "acerto horário de inverno". compreendi agora porque andei sempre atrasada. nunca os mudei. e que prazer não me falta chegar a casa mandar o sapato ao ar...partir o candeeiro e assim permanecer o mÊs inteiro. que não me importo pois então. e há coisas que eu não reparo mas sei. e sei entender a minha desarrumação. atrasada ou não...nunca faltei nem aos ensaios nem ao dia da grande actuação. estive sempre em cima do palco onde se representava a peça da minha vida. tem cd's soltos é verdade mas arrumados e aprumados no meu ouvido. e se para comandantes de divisas falho pela desarrumação....eu cá espero, paciente e impávida de charuto e copo na mão...pelas linhas de jornal nas manchetes de amanhã, fazendo a crítica à grande actuação da peça. são os críticos e as críticas que me acolhem no riso ou na lágrima de tudo isto não ser um reflexo de um leite fora de horas que já não é dado pela mamã. na pratica sem lirismo existe uma pilha de contas para pagar na caixa do correio, que não abre porque não tenho a chave. é a chamada para a responsabilidade que constantemente digo não. agora que acertei o relógio acordo e penso que aquele número pode ser o da chamada para a consciência. e então?
está tudo desarrumado.
gosto assim.
Pensamento da noite
"O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o príncipio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove"
O livro do desassossego
Fernando Pessoa
Fernando Pessoa
Ele vê-me assim
Cor: Vermelho;
Música: Cara de Anjo Mau, Jorge Palma;
Cheiro; Doce, Intenso, mas Suave;
Estação: Outono
Expressão facial: a Rir;
Animal: Pantera;
Gelado: Solero Exotic;
Defeito: Orgulho;
Um Ideal: Cidadania;
Uma Qualidade: Humanismo!
Peças de mim...dos olhos de um amigo!
Música: Cara de Anjo Mau, Jorge Palma;
Cheiro; Doce, Intenso, mas Suave;
Estação: Outono
Expressão facial: a Rir;
Animal: Pantera;
Gelado: Solero Exotic;
Defeito: Orgulho;
Um Ideal: Cidadania;
Uma Qualidade: Humanismo!
Peças de mim...dos olhos de um amigo!
para adoçar a noite...
When the night has come
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No, I won't be afraid
No, I won't be afraid
Just as long as you stand
Stand by me
So darling, darling, stand by me,
oh, stand by me oh, stand,
stand by me, stand by me
If the sky that we look upon
should tumble and fall
or the mountains should crumble in the sea
I won't cry, I won't cry,
No, I won't shed a tear
Just as long as you stand
Stand by me
So darling, darling, stand by me,
oh, stand by me oh, stand,
stand by me stand by me
And the land is dark
And the moon is the only light we'll see
No, I won't be afraid
No, I won't be afraid
Just as long as you stand
Stand by me
So darling, darling, stand by me,
oh, stand by me oh, stand,
stand by me, stand by me
If the sky that we look upon
should tumble and fall
or the mountains should crumble in the sea
I won't cry, I won't cry,
No, I won't shed a tear
Just as long as you stand
Stand by me
So darling, darling, stand by me,
oh, stand by me oh, stand,
stand by me stand by me
o amor com amor se faz
ontem aconteceu.
os pontos chaves. funcionalidade do que alguém chama controlo.
há os que vomitam também. malucos dizem outros.
escrevem-se por contextos a definir, o certo.
o errado.
em mim talvez. há o centro e tudo em volta.
a caneta e o papel que gosto tanto. as linhas traçadas na minha furtia imaginação.
eu e eu. e tu
eu para mim. tu para ti.
zero. um número. igual a um na soma da amizade.
um cigarro. um copo e 'whiskas saquetas'
vitórias são as filhas da união. do maluco inconsciente que ama a frustada consciÊncia.
o amor com amor se faz.
o dada.
o que ninguém entende.
a regra que confirma a excepção.
os pontos chaves. funcionalidade do que alguém chama controlo.
há os que vomitam também. malucos dizem outros.
escrevem-se por contextos a definir, o certo.
o errado.
em mim talvez. há o centro e tudo em volta.
a caneta e o papel que gosto tanto. as linhas traçadas na minha furtia imaginação.
eu e eu. e tu
eu para mim. tu para ti.
zero. um número. igual a um na soma da amizade.
um cigarro. um copo e 'whiskas saquetas'
vitórias são as filhas da união. do maluco inconsciente que ama a frustada consciÊncia.
o amor com amor se faz.
o dada.
o que ninguém entende.
a regra que confirma a excepção.
há meses que repreendo as palavras. tenho medo do que elas possam dizer. uso-as para mentir aos outros..lá fora, bem longe de dentro de mim. aqui, ouço-as como ouvia a minha mãe, quando eu era pequenina. por isso as nego e nem sei porque as negar. vem de mim, lá do fundo. essa vontade mentirosa que tapa os ouvidos do coração com o mesmo algodão que se vende nas feiras. doce, como o amor. e assim calo a boca. fecho os olhos até. vivo no de sempre, no de sempre que não vivo. porque as agendas e os diários estão em branco. todos eles, sem excepção. todos os que me deram e até os que comprei, dos mais bonitos aos maus feios. curiosamente, todos personalizados. e todos, de formas variadas. cada um a inventar uma silhueta nova para o meu corpo, sempre igual e podre dos vícios que o medo traz. mas sempre em branco. as palavras surgiram sempre em bombardeamentos de letras em semântica perfeita e nunca tão perto estive de o aceitar. sou a típica construtora de fases apropriadas ao momento. de vocábulos sempre a saltitar em conversas de café, novamente a fugir das palavras certas. dos outros, este pequeno diário unicamente diferenciará na cor de fundo. o branco pelo preto, na ausência da presença da hostil e flácida palavra.
morte de nós dois
Tamanha Teimosia
leves como uma pena. são os teus dedos no meu pescoço de menina galanteada. um arrepio sobe e desce e toca lá bem fundo. porto-me que nem uma donzela. jogo e jogo mais. tu também, teimoso como a merda (até a puta da merda é teimosa). sabes para mais, que te fica bem tamanha teimosia. sai o não, avança a boca, sai o talvez, recua outra vez. e joga-se o ciclo vicioso da democracia amorosa. sim porque o amor agora também tem destas coisas. os bens parecer agora servem para "nos darmos bem" e o amor da eternidade virou "andamos a curtir". depois há os que se amam de verdade e recuam sempre a boca. a perna. o braço e o baço. a alma e o coração. até a mão. as massas e os pares acham que é a unica alternativa para a emancipação. nem o coração já manda na razão. por isso gosto dos loucos. não há razão que lhe exijam que não rejeitem e deitem ao chão. ou ao coração! esse o chão de muitos lamentos e de muitos amores. acredito que esses ainda escrevam cartas de amor e planeem a "morte mágica", num suícidio no plural do mais que perfeito! uma coisa é certa...afugentam a razão. coisa que tu não fazes, seu teimoso. continuas a sofrer do mais psicótico de todos os síndromes...materialização do coração. chego a achar que tenho razão e perco a total noção do limite onde já me levaste. ao minucioso ponto onde rebenta tamanho prazer. em fase regenerativa da ressaca, degeneram-se os meus sentidos da realidade. a mão desce e já vai lá bem baixinho. quando as luzes se apagam pelo peso das minhas pálpebras. toda a energia é acumulada num só ponto. adormeço aí e acordo aqui. não sei o seu princípio nem o seu fim. só sei que adormeci!
é como se os movimentos não tivessem arestas. fossem uma encruzilhada de linhas sem ângulos rectos. assim me movimento. há claves de sol como unidade básica do meu cérebro. o outro dizia que às vezes se vê a música. aprendemos a ser sinestetas, digo eu. a continuação de uma palavra mal fundamentada. são ilusões e palavrões que interpretamos por outros sentidos. nada faz sentido sozinho. sozinho serias o Universo de ti próprio e tudo o de que tudo o que existia tu fazias parte. não dá para imaginar um Universo de trapo, com o delinear de uma cabeça, duas pernas e dois braços. é que nem te consigo imaginar com mais nada...tu no teu modo standart a construir o tudo! No mundo em que a sinestesia dos sentidos me acompanha, entendo depois que, nem a imaginarte eu consigo de outra forma para além das formas que já conheço. Falta talvez a qualquer comum sinesteta aprendiz, o último sentido! O mais difícil e sedutor sentido que, nos prende neste estadio da ignorância, nos seduz em golos do alcool que nos aquece as veias, se despe no fumo branco da Paz, nos engole na fraqueza do coração. há quem veja muitas outras coisas para além da música. Vêem nas pantufas da bailarina, o coração gigante do abelhão. vêem mais na panela do João Ratão, que nas profundezas do meu coraçao.
continua tudo sem arestas, sem ângulos rectos...
continua tudo sem arestas, sem ângulos rectos...
À minha querida Ana Stella de Oliveira
"espalhem a notícia, sabes? sabe tão bem cantá-la!"
trinte e seis anos vagos de criancice. eras a lava que sobrava nos desombros de sempre...naquelas ruas que nunca nos acolheram. muitos homens te conheceram. a alguns dos muitos foram-te ao fundo desse corpo e desse ventre. tinhas cara de estrela perdida...mas ainda assim estrela. aquela sábia figura com cinco pontas que reune os cinco elementos fundamentais. e se o espiríto é o último, foi o que mais agarraste...foi aquela que viraste para mim e eu mais gostei! que força é essa, minha amiga, que vem de um lugar tão frágil como o teu mundo? a força raivosa com que destrambelhas a tua vida afogando-a em múrmurios de gente só. charras-te aqui e a acolá mas sempre me ensinaste que aqui e acolá onde vamos, vamos connosco. que força é essa, minha amiga, que bebes em golos de amor pelo teu filho? a mestria da mente aberta, do canto fechado onde te refugias do mundo. desfilas em trapos velhos e escondes a beleza ímpar que o tempo enrolou e fumou. sabes de música e de livros. testamentaste-me o dom de viajar sentada no meu ninho. as tuas mãos a desenhar letras criam calos de artista. não há sorriso como teu...e se a embriaguez o engata nessa noite...fundem-se em harmonia perfeita. e nessa noite, em que a noite brilha muitos mais (dizes sempre tu) a tristeza une-se à inimiga harmonia da noite e desiste de a enfrentar. eu embasbaqueço a ouvir-te, a rir das tuas gargalhadas infantis, a ver-te personificar as minhas humildes aprendizagens, embasbaqueço cada vez que me chamas "amiguinha"...
guardado tudinho...no meu coração!
Saíste do diabo. escureço a minha luz com rasgos de raiva por não te comer quando a insanidade me invade. afogo-me em litros de whisky de malte, velho como são velhos os anos da minha insanidade. fumo ou esfumaço qualquer cigarrilha que me prendam à boca. invade o pulmão como a seta que me espetou certeiramente. quase que não percebia a nudez do meu pecado até te ver. os anjos quiseram e fizeram. fizeram-me olhar e ver-te. ali mesmo despido no rio do meu leito. a fragilidade do guerreiro. porque sim meu amor, tu és um guerreiro. eles que falem e opininem, que julguem ou critiquem. eu sei mais que eles. eu vi-te e quis-te sempre. quis pousar-te sempre na minha cama. no meu chão. quis-te sempre para sempre a limpar o meu suor depois de uma noite a segregar amor. mas nada disto aconteceu. não te comi nem bebi...e é tão bom comer a paixão e beber o amor. ou seria bom? acaso não bebesse tanto whisky. certamente que não bricaríamos ao gato e ao rato em cenário sado-mazoquista. ou foi a adrenalina produzida nas nossas sessões que nos fascinou? a nossa neofobia ao prazer da dor levou-nos quase ao orgasmo perfeito. o diabo quis e quase que esse crime se concretiza a cada vez que penso em ti. a demência dá-me para isto...acreditar que o beijo pode ser tão capaz de ser a fórmula perfeita da perfeição. beber esse orgasmo de amor. o diabo é a sombra da nossa fatalidade. minucioso e paciente...levar-me-á até ti...à morte perfeita! sinto no teu bafo quente que ainda não acabou!
corto tempo com a tesoura da girafa. é assim que se passeia no corredor lá de baixo,. em que o tempo não passa e os dias correm. hoje é dia de decisão. de etapa. de avaliação. que me vão avaliar? as técnicas que já ninguem, que saiu, lembra. as pegas que não pegam ninguém. a mim não me pegam. não me seguram nesta corrida contra o tempo que falta para entrar por aquela porta. a tesoura corta, ainda assim, o tempo. para o relógio e abre o coração. deixa de ser um espaço tão fechado quanto aquele corredor e contorna-se no devaneios de sermos "nós". que força é essa? a que me combate quando me quero ir embora, que me apazigua quando fico e chumbo e renego e choro e enfrento tudo para poder ficar.
e a pragmatica?
estou cansada da lamechice de sempre. inventei-te defeitos e hoje quando os quis recordar estavam apagados. a borracha do amor deixa em branco as linhas mais importantes. renova a vontade de caminhar pela felicidade. estarei perto de encontrar as palavras certas para lhe dar sentido novamente? folheio o passado e vejo que cada passo é uma nova descoberta. são letras e palavras e frases e histórias todas saltitantes. embrulhada de sintaxe a que escreve a nossa vida. tu és agora o meu professor. tu que não sei que és mas devolveste ao meu acordar um novo recordar...desta vez a sorrir. a mão que faltava para endireitar os linhas com que traço todas essas letras...semanticamente correctas quando surge a verdade...pragmaticamente certas quando vieres até mim cumprir o devido: "Não perca mais tempo"
Cry Freedom Cry
saudade de brincar com as bonecas.
saudade de ir à escola de mochila cor-de-rosa e óculos em forma de coração.
saudade de ser a preferida da minha professora.
saudade...
quem terá inventado a saudade? bem para se inventar a saudade tem que se trabalhar muito para se inventar também a solidão, a distância, o tempo, a morte e tantas outras que de tantas que são, já nem eu me lembro. são estas as que me importunam. dizia o senhor da papelaria que a a ignorância é perdoada a quem da sabedoria não careceu. e não que é o meu caso? a solidão no vazio desta casa e no passar em branco as páginas do meu diário mais recente. o tempo que já não me devolve a fralda e a comichão das blusas de malha da Benneton que a minha mãe docemente me escolhia. já não me lembra sequer do sabor do leite da mama da minha mãe. já não me tráz a tristeza de ter que comer a sopa sob pena de um castigo qualquer. agora as penas são outras e já nem é por comer a sopa...como este tempo corre...terá medo de alguma coisa? a morte! também quero falar dela. ela atacou quem eu não queria. atacou-me a mim também. destruiu tudo. queria falar dela com a leveza da racionalidade mas é-me tão difícil. é agora e em tantos outros dias. e às vezes noites. sou pessoa para lhe dar mérito também. (quando tiver coragem e me apetecer até lhe dedico umas palavras). se destrói também constrói. perspectivas de vida. mais gavetas no armário da realidade. uniões e desuniões. teorias e crenças. alucinações. pesadelos. cria tanta coisa mais. distância. são um rol de histórias que ficaram por aí. no tempo. no espaço. no coração. no tempo e no espaço do coração. er por aqui que queria começar. era disto que queria conversar no outro dia quando chegada a casa. seria o "tema de varanda" em que o pássaro se falasse diria "estou contente por dizer miau e não piu piu". em que o dia tinha mais sal e agradava no paladar das desavenças. porque foi disto em que tropecei no tempo do coração. e o espaço que agora regista nova turbulência até chega a imaginar a ilusão dessa emoção. gostava que no cimo da minha ruela o seu nome fosse em azulejo pintado à mão. a rua principal onde decerto sempre te encontraria. o suburbano é sinónimo do subumano no dicionário do quotidiano. a cor também escureceu e a pedra (que em latim é petra e que por mero acaso está na origem do nome Pedro) é mais densa e menos dura. é alcatrão. o pouco carinho do tempo e de quem a pisa a escurece e endurece. é a realidade de toda a pedra que se sujeita ao cruzamento apressado de quem partilha a mesma rua e não se conhece. a julieta do Dartacão agora chama-se floribela (não merece maiúscula). gostarias de mim, concerteza, se me tivesses conhecido outrora. teria aberto o baú ainda reluzente da pureza de se ser quem é. único e irrepetível ao invés de me multiplicar em todos os fantoches que vou sendo em cada lugar novo.
terias gostado.
choro.
continuar?
já não há estrada para andar.
pensamento da noite
"O sexo é o consolo que a gente tem quando o amor não nos alcança."
Gabriel García Marquéz
Não há milagre que lhe troque as voltas
para quê matar a cabeça se os deuses se enganaram mesmo? há quem não acredite nesta teoria mas eu acredito e pronto. a realidade há muito que se escapou pela minha angústia. acreditei no certo como nunca acreditei em nada. o homem não sabe o que diz quando fala de amor. ele sonha de facto com ele e deposita a sua acreditação naquilo que nem sabe se é real. a transportação de um ideal é no fundo um conjunto de perspectivas que a ansiedade lhe traz. a ansiedade pelo novo. a ansiedade pelo diferente. a ansiedade pela felicidade. são tudo utopias. porque se a última não existe...as primeiras são abolidas pela neofobia que a todos caracteriza. a saudade da infância e do amigo especial...quem não tem afinal? eu tenho e tu sabe-lo joão. depositei em ti tudo isso que hoje sei não existir. sei como sei da tua ausência. acreditei como acreditei pela tua presença. a presença que enche o espaço vazio da ignorância. a presença que me deu preguiça para crescer e viver. a tua sombra não foi o caminho...mas encostei-me a ela de tal forma que sonhei fazer parte dela. recordo lições e sermões...recordo ensinamentos que não se adequam. eram apenas teus. jamais meus. "vivemos no tempo dos assassinos"...tempo em que os mosqueteiros gritam eu por mim, tu por ti!
(Não há milagre que lhe troque as voltas!)
vacas lavradas por amor
…e tenho a sensação que vou acordar do pesadelo numa cama fria e bem sozinha. Vou dar espaço à solidão para entrar na minha casa. Abri-lhe as portas e as janelas…fechei-me apenas no escuro da casa fria. A almofada do lado é quente como tu serias. Não aquece lá no fundo nem sequer te substitui. Não tem a tua forma delineada nem desenha os lençóis com impávida harmonia. Não. Está ali apenas para tapar mais um buraco que abri ao entardecer do dia. Aquele momento em que a força esgota e apenas desatino. Gritar é proibido e calo esse impulso numa pancada só. Eternamente a pensar nele mas sem nunca lhe ter dado liberdade. Correr seria bom se as minhas pernas se aguentassem. Elas são já o fruto de todas as sementes que plantei. A droga. Substitui as pernas. Dá-me outras. Mais fortes e mais longas. Corro tão depressa que chego a voar. Às vezes sinto-me uma prostituta. Prostituta de alma. Vendo o meu corpo às pernas fáceis para procurar o caminho que me salvará. Sei que há outras como a prostituta sabe que há outras. O dinheiro é rápido como a minha alucinação é rápida. Ela vende o corpo. Eu também. Ela sonha melhorar e encontrar a meio um novo caminho. Eu também. Ela perde-se nos desaires que ela criou na sua vida. Eu também. Escrevo isto e quando leio aperta-se o meu peito de tal força que desconheço. Bebo. Bebo mais. Bebo mais ainda. E sem querer e saber vendo-me mais um dia. São os trocos que necessito para pagar a minha estadia aqui. Não precisava das quatro ou cinco estrelas mas habituei-me a elas. Os honorários agora exigem mais portanto…e eu dou! Eu dou mais do meu corpo. Prostitutas de alma. Afinal somos todas da mesma espécie. Vacas lavradas por amor. O norte já não há bússula que me indique. Que nos indique. Há apenas um coração magoado e humedecido pelas lágrimas que por medo secaram. Está tudo impávido e sereno à minha degradação. O relógio não pára afinal. Não há espaço vazio no tempo que me permita parar. Preciso de um corrimão sem tempo para lhe chegar. Preciso que o dia não corra desesperado atrás do amanhã. Preciso que o dia não ecoe em cada canto a voz do passado. Preciso que o dia seja dia e nele lhe recorde que é ali que se pode e deve ser feliz.
Não sei...
Não sei cantar
Nem tampouco dançar
Tenho passos descoordenados
Do som que vai soando
Não sei pintar
Nem tampouco desenhar
Esborrato as formas
Que informes vão ficando
Não sei falar
Nem tampouco representar
Esqueço sempre as falas
Do teatro que vou encenando
Não sei imaginar
Nem tampouco brincar
Ouço apenas a música
Do único cd que vai girando
Não sei ficar
Nem tampouco cativar
Desvaneço às escuras as tintas
Com que a vida vou pintando
Não sei lutar
Nem tampouco revolucionar
Perdi a lixa
Com que as arestas ia limando
Não sei memorizar
Nem tampouco recordar
Guardo apenas num canto
Aquilo que vou coleccionando
Não sei olhar
Nem tampouco valorizar
São apenas aprendizagens alheias
Que aos poucos vou assimilando
Não sei andar
Nem tampouco voar
Adapto-me ao refúgio
A que sempre me fui habituando
Não sei pensar
Nem tampouco criticar
Acolho pedaços de sabedoria
Que outros mestres me foram ensinando
Não sei sonhar
Nem tampouco amar
Digo apenas que sim
Às trivialidades que vou gostando
Não sei aceitar
Nem tampouco calar
Vou abrindo a alma
E aos poucos vou mudando!
Nem tampouco dançar
Tenho passos descoordenados
Do som que vai soando
Não sei pintar
Nem tampouco desenhar
Esborrato as formas
Que informes vão ficando
Não sei falar
Nem tampouco representar
Esqueço sempre as falas
Do teatro que vou encenando
Não sei imaginar
Nem tampouco brincar
Ouço apenas a música
Do único cd que vai girando
Não sei ficar
Nem tampouco cativar
Desvaneço às escuras as tintas
Com que a vida vou pintando
Não sei lutar
Nem tampouco revolucionar
Perdi a lixa
Com que as arestas ia limando
Não sei memorizar
Nem tampouco recordar
Guardo apenas num canto
Aquilo que vou coleccionando
Não sei olhar
Nem tampouco valorizar
São apenas aprendizagens alheias
Que aos poucos vou assimilando
Não sei andar
Nem tampouco voar
Adapto-me ao refúgio
A que sempre me fui habituando
Não sei pensar
Nem tampouco criticar
Acolho pedaços de sabedoria
Que outros mestres me foram ensinando
Não sei sonhar
Nem tampouco amar
Digo apenas que sim
Às trivialidades que vou gostando
Não sei aceitar
Nem tampouco calar
Vou abrindo a alma
E aos poucos vou mudando!
Era serena a tarde que impávida segui
O olhar encheu de força o que com o coração eu não vi
Veio a noite relembrar o passado
Esculpiu de novo o coração magoado
Desenhou com traços novos a mágoa que outrora senti
Abraço o que foi e o que será
Em cada corda da viola que a soar não voltará
Nos ouvidos embriagados da doçura
Nos lamentos esfaqueados pela ventura
Da esquina onde meu corpo frágil não ficará
Apago a chama da vela no delinear de mim
São acordes que piamente relembro para ti
Esgoto o destino em minhas mãos
Repugno as teclas que calmamente soam a nãos
Esfaqueio a coragem de quem disser que para sempre será assim!
O olhar encheu de força o que com o coração eu não vi
Veio a noite relembrar o passado
Esculpiu de novo o coração magoado
Desenhou com traços novos a mágoa que outrora senti
Abraço o que foi e o que será
Em cada corda da viola que a soar não voltará
Nos ouvidos embriagados da doçura
Nos lamentos esfaqueados pela ventura
Da esquina onde meu corpo frágil não ficará
Apago a chama da vela no delinear de mim
São acordes que piamente relembro para ti
Esgoto o destino em minhas mãos
Repugno as teclas que calmamente soam a nãos
Esfaqueio a coragem de quem disser que para sempre será assim!
Sei-te de cor em cada palavra e em cada gesto
Sei-te de cor nesse novo olhar que hoje é funesto
Sei de ti mais do que pensas
Sei como sei de todas as tuas crenças
Ouço-te na voz que olhas e cantas
Ouço-te na neblina cada vez que balanças
Ouço sem dizer o abraço que me dás
Ouço como ouço todas as lágrimas que a mágoa me tráz
Vejo-te em mim na dança da vela acesa
Vejo-te na gargalhada sonolenta da pobreza
Vejo o que quero quando fecho a alma
Vejo como vejo tudo o que me traz a voz de Palma
Liberto-te da fome da força de um beijo
Liberto-te de tudo o mais que não vejo
Liberto essa faca da mão que não quiseste
Liberto como liberto tudo o que um dia me deste e não soubeste!
Sei-te de cor nesse novo olhar que hoje é funesto
Sei de ti mais do que pensas
Sei como sei de todas as tuas crenças
Ouço-te na voz que olhas e cantas
Ouço-te na neblina cada vez que balanças
Ouço sem dizer o abraço que me dás
Ouço como ouço todas as lágrimas que a mágoa me tráz
Vejo-te em mim na dança da vela acesa
Vejo-te na gargalhada sonolenta da pobreza
Vejo o que quero quando fecho a alma
Vejo como vejo tudo o que me traz a voz de Palma
Liberto-te da fome da força de um beijo
Liberto-te de tudo o mais que não vejo
Liberto essa faca da mão que não quiseste
Liberto como liberto tudo o que um dia me deste e não soubeste!
oiço o silêncio apenas. foi o que restou do dia que sufocou. rasgo cartas e retratos e ainda assim eles teimam em ficar pendurados no peito. os fios que os enalteceram não fazem hoje qualquer sentido. convenceste-me disso. não ouso agradecer o abraço e apenas lamento não o ter sentido. foi mais um alento de caricato esplendor que se uniu a outros tantos e explicaram a efemeridade de um momento singular. mostra também a beleza que desta vez não cativou, desta vez fugiu por entre os dedos. a pele estala e lá dentro só há a alma. descrita em traços lentos de horrores mistificados de segredos que não soubeste desvendar. os olhos fecham. não sabem ver por entre os quadrados do vidro embaciado. são janelas fechadas ao mundo de trancas amargas e amarradas apenas a ti. quem sabe a mim. as mãos enlaçam uma na outra apenas para suspender o vício que me mata. o anel já corta e é hora de se retirar de cena. o palco é meu. não ouses mudar o cenário. instalei o veredicto no dia que para o palco subi. o enredo foi marcado e ensaiado, escrito por outros tantos que tu não conheceste. é hora de beber o cálice amargo do adeus. as palavras envolvem-se e correm em passos dentro da casa escura. não conhecem o fora nem o dentro. não conhecem o elenco. não me conhecem a mim. as luzes desvanecem-se. a ribalta desvaneceu-se. o céu já não nos merece e tudo mais são frases feitas que decorei para ti.
daqui de onde vos escrevo (II)
já não escrevo há tanto tempo. e quando escrevo tenho a sensação que apenas debito palavras e me obrigo a construir frases que fazem sentido. desaprendi esse hábito da mesma forma que o aprendi. rápido e fatal, o momento em que deixei as palavras foi o terminar da fase da confusão. começa a surgir a lógica. dão asas às permissas da vida que se unem e ocupam os meus pensamentos. outrora foram espaços vazios que enchia com inspiração. transcrevia laivos da minha imaginação em pedaços de papel, em pedaços de alegria, em pedaços daquilo que ninguém entendia. Hoje abriram portas aos espaços mortos. recantos de volume residual que não produz nem reproduz. apenas um depósito aberto tipo arrecadação que arruma bem arrumadinho o processo da aprendizagem, do crescimento e da imaginação. as peças eram soltas que equacionava e juntava lá no fundo da minha confusão. agora são quadros pendurados no coração que olho e vislumbro, admiro e recordo mas afasto da minha mão. a loucura tirou férias e parou noutra estação. fez da sua existência um paradeiro incerto que não cabe nesta dimensão. não me levou com ela e por muito que chore...fiquei com o resto de tudo que um dia me deu e com a minha caneta na mão. anseio o dia da sua volta ou o dia da minha emancipação.
daqui de onde vos escrevo
é um outro lugar este de onde vos escrevo. e hoje escrevo para vocês (e juro que continuo sem saber quem são). è racatado e silencioso. tem luz e livros. parece-me bem. tem também uma janela à altura do chão que me impede de respirar cá dentro. tapa-me o céu e quebra-me as asas. dá aquela sensação na barriga que o mundo é só aquilo que conseguimos ver por entre os vidros. tudo o resto está tapado por paredes e lâmpadas modernas, por pedras brancas e madeiras claras. volto à criança que fui cá dentro, e sem querer, avalio-o o meu redor por aquilo que vejo. aqui dentro, lugar de recantos desenhados para a meditação e inspiração, sinto-me presa e sufocada. não sinto nada...apenas vejo...apenas penso. está frio também. o ar condicionado não aquece a melodia que se ouve baixinho para não incomodar os leitores. nem essa faz sentido. no fundo ninguém gosta dela mas é propícia para o ambiente. pedi à senhora para a mudar. levou aquilo como um insulto e disse-me que apenas servia para cortar o silêncio e que não há musica que agrade a todos. Há podem crer. mas isso nem é importante. "cortar o silêncio"? tÊm medo dele...porque ele faz mais barulho que qualquer confusão. Ele é a voz da consciência e da realidade...às vezes mesmo a voz da cosnciência da realidade. E música baixinha atenua esses pensamentos vãos de que todos têm medo. entra-se na música (ou não) e foge-se mais depressa. e porque não o barulho? se um livro for muito bom cativa o suficiente para fugires da tábua giratória que envolve esse momento.
porquê o meio termo?
porquê o talvez?
porquê o meio daquilo que não é nada?
porque fogem as pessoas?
do que fogem as pessoas?
falar alto importuna. falar baixo incomoda. em cada sítio um ambiente-tipo que atrai um grupo de pessoas. divisão. palavra chave para esta realidade contemporânea. já ninguém é aquilo que simplesmente é. porquê?
porquê o meio termo?
porquê o talvez?
porquê o meio daquilo que não é nada?
porque fogem as pessoas?
do que fogem as pessoas?
falar alto importuna. falar baixo incomoda. em cada sítio um ambiente-tipo que atrai um grupo de pessoas. divisão. palavra chave para esta realidade contemporânea. já ninguém é aquilo que simplesmente é. porquê?
as razões do meu sim
não poderia ficar calada de maneira nenhuma. também eu me sinto no dever de dar o meu parecer nesta que já quase se apresenta como a pior e mais nojenta campanha de sempre. é dia onze o derradeiro dia. aquele onde muita coisa vai finalmente aparecer, espreitar a cabeça e e mostrar-se ao mundo da maneira mais medíocre que conheço. Aborto ou Interrupção Voluntária da Gravidez? como estamos num país de palavras bonitas, eufemizamos a nossa mesquinhez e pudor com a elegância de sempre e ficamos pela segunda. temos hoje um primeiro ministro de palavras fáceis e de promessas vãs que diz apoiar aqueles que votam sim. saberá ele a pergunta? deve ser dos poucos então...pelo menos os senhores da campanha do não de certo que não aprenderam a mesma língua que eu. à vezes pergunto-me se no próximo domingo irei dar com um papelinho com a seguinte pergunta: É a favor do aborto? não, não sou. quero deixar isso bem claro. prezo a vida mais que qualquer outra coisa...porque só existe qualquer outra coisa porque existe vida! prezo o Ser Humano. difamo-o sempre que posso. é desculpável. mas nunca deixo de o prezar. prezo as crianças e a sua liberdade...prezo tudo isso e tudo mais. daria a minha vida por outro ser qualquer...tenho amor dentro de mim e são muitos os culpados disso...tenho valores e consciência...tenho voz para gritar: Quero ser livre! porque todos os meus pecados não encaram a maldade. porque todos os meus pecados não ultrapassam as leis da vida. não devo então votar sim? devo pois então. devo isso à minha liberdade. devo isso à minha consciência. devo isso às mulheres e aos homens. devo isso a mim. as leis servem para proteger e não para condenar. quem se protege com a penalização da IVG? a mentira e a fachada? a clandestinidade e o enriquecimento de gente suja que não tem pudor nem valores? as mulheres que por não terem amor para dar deverão amamentar os esfomeados desta sociedade, morrendo em vãos de qualquer uma escada? a criança? ah, a criança! mas qual criança? um feto que se diga, minha gente de sedutoras palavras! feto! células vivas mais nada. onde começa a existÊncia? alguém parou para pensar nisso? um Ser Humano rege a matéria pela essência. a mãe tem-na. o feto não. não há homicídio nas mãos da essência. não há faca nem pistola que a matem. é como a água...temos todos o direito à vida (1º artigo da DUDH) e todos o direito à liberdade ("2º artigo da DUDH) desde que tenhamos vida. a mãe tem-na...um feto não. há algo que nos distingue das plantas e dos animais. é tudo o mais que distancia a liberdade da mãe das mãos dos pulhas que defendem o Não.
a minha varanda
cresci a sonhar com ela...a minha varanda! era imaginária como tantas outras fantasias que tive. hoje também elas se tornaram fruto do pecado e a culpa é somente da sua inexistência. tiveste sempre lá a ombrear todos os luares que eu perdi. imaginei-a com flores e uma cadeira branca. não sei porquê. é talvez a réstia da pureza que sobrou da minha criança. também a ela a remeti para a imaginação. a dura crueldade vejo apenas da janela. limitada tudo bem, mas até prefiro assim. a magia perder-se-ia se tivesse a observá-la na minha varanda. fecho bem a porta sempre com medo da escuridão. se tivesse varanda podia apenas olhar para o tudo de tudo e traduzi-lo em mim...em palavras melhores de mim...em sei lá mais o quê. teria viajado para muitos lugares para onde não se pode comprar bilhete de avião. teria ido com todo o gosto. teria talvez voado...ou caído...mas teria tido muito mais para ser muito mais também. imaginei-me a namorar dali. alguém a cantar para mim. imaginei-me a saltar dali e a fugir à saia rígida que jamais permitiria tal fuga. imaginei-me a compor músicas no meu imaginário. imaginei-me a imaginar...imaginei-me a crescer ali e faltou-me esse pedacinho de mim. assim, não cresci para sempre...fiquei com a etapa que não ultrapassei na minha criança...a etapa da imaginação! escrevo agora para ti...(alguém que teria sido se tivesse na minha varanda a escrever)
a minha estrada escolho eu. não compreendo como mortais de vasta sabedoria pensam no fim como dado adquirido. preocupam-se em contra relógio fisiológico. corre depressa essa opinião que comprar o céu deve estar na moda. eu sou de outra opinião. descobri até que nem é genético e agora tudo comprova a inexistência da amiga lógica. viro mais uma página e percebo que a forma do poeta já mudou outra vez. há que vender e não escrever. que interessam as palavras quando podem virar meros tostões. e com tamanha ribalta até o guardião lá de cima prepara a cunha para o patrão! oh céus que movem por cima das nossas cabeças e pedaço a pedaço deixam restos amolecidos do mapa. iluminam os pecados com a gratidão e eu perco-me noutro ciclo vicioso. as minhas veias precisam de aditivo para fugir. a energia dispendida aqui é muita e eu sou tão fraca. preciso de tudo isso e mais que não sabes. conta a areia da praia por favor. peço-te e eu sei que já vais dizer não. um favor é tanto quando não se tem nada para dar. e eu sou assim...fico com o trabalho árduo da procura...da contagem de cada grão mas não te fico a dever um favor. no fim de contas, tudo o que sei daquela areia nunca valeria nem um quinhão do que me cobrarias...
"lembra-te da criança que foste e nunca a envergonhes"
porque és assim? porque sou eu assim, tão diferente de ti? de onde apareceste? porque é que estás aqui? porque é que eu estou aqui? porque falo eu contigo? porque falas comigo? quem disse haveria uma língua que ambos entendessemos? há malucos assim? porque achas que me ensinas alguma coisa? porque haveria eu de o achar também? porque temos vidas tão iguais? porque não te afastas de mim? porque não o faço eu? serei igual a ti? porque nos comportamos da mesma maneira? porque és tu um espelho para mim? porque és o contrário de tudo o que é igual a mim? porque te faço tantas perguntas? porque não me respondes a nenhuma? porque és tão mau para mim? porque sou tão má para ti? porque sou tão má para mim, tanto quanto tu és para ti.
afasta-te de mim
afasta-te de mim
esplendorosa fragilidade
frágil...como tu, esta noite...também estou frágil.
a corda estica tanto que já quase rompe. esborratei as paredes de cor diferente mas a casa continua igual. vazia de tais nadas que me embasbaquecem de solidão. dava tudo por uma palavra verbalizada de uma boca qualquer mas mais tamanha que tanta ampatia pela podridão. esplendorosos momentos que tantas vezes que aqui passei. ao luar de uma varanda agora vazia, num copo cheio de tudo o que sem querer me escapava das mãos e me aquecia o coração. depois o fumo que empoirava sem querer a desarrumação de noites bem atribuladas. camas que não chegavam para corações tais. cansados da bebedeira de alma. gargalhadas barulhentas e inportunadoras para parentes de corredor. e agora eu...frágil. sem ti, sem ti e sem ti. sem ainda mais ti e ti e ti...tantos tis que vão e voltam e que por azares ou sortes do destino nunca param apenas numa estação. cabeças apressadas essas que não percebem que estou aqui a tentar dar uma lição. a minha primeira aula de senhora doutora da solidão.
pensamento da noite
pensamento da noite
«a verdadeira literatura só pode ser criada por loucos, eremitas, heréticos, sonhadores, rebeldes e cépticos»
Yevgeni Zamyatin
veredicto
são cores de brincadeira as cores da mesa de onde vos escrevo. cores de legos. fazem flores coloridas como a daquelas cadeiras pequeninas que se vendem pelas ruas da minha Évora. artesanato lhe chamam. chamo-lhe memórias infantis. a chávena é azul. está na medida certa. nem muito claro como o azul bebé...nem muito escuro. é uma tonalidade medida que me pertence. há açucar para o chá. daquele que sempre gostei. e depois há mais tudo que não sei, neste café. lá fora encantei-me há pouco.eram três e tinham três anos (foi esta a conta que alguém fez, não foi?) e corriam ainda meio atrapalhados mas corriam e corriam e corriam...brincaram e riram e ainda há pouco não se conheciam. deram logo as mãos.
sol. frio. três baloiços...como o três...perfeito. nada no mundo mais puro que aquela paisagem meu Deus. e eu? eu aqui...esquecida daquilo que também vivi. daquela mão dada e...agora aqui bafejando o pecado. a minha cabeça já roda. é já outra dimensão aquela onde estou e tudo me parece tão exagerado. o que vejo, o que sinto, o que faço...tão forte...tão exigente...tão dissimulador. viajo agora. é um caminho sempre diferente e em cada um me vicio mais. quem fui...e quem sou agora...eu também tive baloiços e mãos dadas. agora o meu baloiço é outro. é mais enaltecido que o trono de qualquer um rei. é usado e reusado e nunca é lavado. cai no vicio de baloiçar a chorar pela minha música que me embalara outrora. estou a ficar cada vez mais escura. o azul com tonalidade medida é a fronteira que assinala a contagem decrescente para a luta contra a solidão. só agora entendi a minha avó. as chávenas lavam-se com água bem fria para não aclararem. a saudade magoa e desfaz o que foi real.
escolheste o caminho errado. o caminho escolhido por qualquer um igual a ti. brinco à noite e abandonei o dia, fecho-me no espacinho curto de "convívio" onde nunca ninguém se conhece e não lhes falo ao invés de brincar ao sol e com quem nunca vi, troquei o carrinho conduzido pela minha mãe pelo carro conduzido por mim. usei do poder e instaurei o veredicto: trocar-me a mim por ti, que será sempre melhor que fugir de mim.
sol. frio. três baloiços...como o três...perfeito. nada no mundo mais puro que aquela paisagem meu Deus. e eu? eu aqui...esquecida daquilo que também vivi. daquela mão dada e...agora aqui bafejando o pecado. a minha cabeça já roda. é já outra dimensão aquela onde estou e tudo me parece tão exagerado. o que vejo, o que sinto, o que faço...tão forte...tão exigente...tão dissimulador. viajo agora. é um caminho sempre diferente e em cada um me vicio mais. quem fui...e quem sou agora...eu também tive baloiços e mãos dadas. agora o meu baloiço é outro. é mais enaltecido que o trono de qualquer um rei. é usado e reusado e nunca é lavado. cai no vicio de baloiçar a chorar pela minha música que me embalara outrora. estou a ficar cada vez mais escura. o azul com tonalidade medida é a fronteira que assinala a contagem decrescente para a luta contra a solidão. só agora entendi a minha avó. as chávenas lavam-se com água bem fria para não aclararem. a saudade magoa e desfaz o que foi real.
escolheste o caminho errado. o caminho escolhido por qualquer um igual a ti. brinco à noite e abandonei o dia, fecho-me no espacinho curto de "convívio" onde nunca ninguém se conhece e não lhes falo ao invés de brincar ao sol e com quem nunca vi, troquei o carrinho conduzido pela minha mãe pelo carro conduzido por mim. usei do poder e instaurei o veredicto: trocar-me a mim por ti, que será sempre melhor que fugir de mim.
Mercado Puro
16:50h
chá vermelho
bolo de chocolate
um papel, uma caneta
e muitas saudades de mim
quero ser poeta
sou uma poeta ou uma igual a todas outras que não poetas?
expresso muitas e muitas vezes e sempre com muita emoção essa vontade de ser poeta. quem seria eu se fosse poeta, penso...e nem sei quem são os poetas. já parei. nem digo mais vezes a palavra poeta...mas ela persegue-me! ou até sou eu que a persigo e a desejo. a fragilidade que me assombra retrai-me. penso, penso e repenso (segundo sei os poetas pensam) e na minha loucura (todos os poetas são loucos) e na minha fantasia (!) encontro mil teorias e verdades, intrigas e mentiras e...sinto-me frustrada...a minha teia é sempre e sempre e ainda mais sempre maior. depois vou debitando palavras aqui e ali...pronunciadas na voz rouca do silêncio...na mão cerrada da multidão. ranjo os dentes de frio e arrepio-me dessa voz inportuna. fecho a janela e nada resulta. continuo a mergulhar lá fora...a rasgar a barreira entra a verdade e a solião. fundo-os e resultam palavras no meu papel. rasgado, esborratado, velhinho...achado num qualquer recanto do passado e que hoje é o que sobra dos pozinhos que voaram quando a janela fechou. tenho tudo pa ser poeta...não me digam que não. posso até nem perceber da escrita...tudo o resto não é para se perceber não.
ele e ela
ela era loira e brincou no campo. ele era loiro e nunca brincou no campo.
ela sorria e gostava de patins. ele gostava de olhar o nada e paredes brancas.
ela dava gargalhadas e bebia vodka. ele olhava o mar e a sua voz.
ela vivia na cidade sem rio. a dele tinha mar.
ela conheceu-o. ele conheceu-a.
ela gostou dele. ele não gostou dela.
ela amou-o. ele odiou-a.
ela subiu estatutos. ele voou.
ela esqueceu-se dele. ele não se esqueceu dela.
ela morreu. ele imortalizou-a.
vou descobrir
vou descobrir
vou, podes crer
vou descobrir a alegria de saber viver
e vou fazer-te inveja meu palhaço. cantas como galos logo bem cedo. dás até o ar da tua graça incutindo valores que já ninguém leva a sério. madrugar não é comigo e levas muito a sério o meu inconformismo.largas a corda do poço e deixas-me lá em baixo na esperança que eu me afunde. nem penses...também sou teimosa sabias? trepo o que for e tu...tu hás-de cair lá em baixo, sozinho, numa noite fria e chuvosa apenas puxado pela mentira em que vives. sonhas ir mais longe...vês as casas e eu os montes...vês o futuro bem seguro...eu vejo a fonte e o horizonte...e agora que tudo ainda te parece imaturo, eu digo-te que nunca há-de ficar maduro. faltou-te o alicerce principal....que numa mão fechada trago bem seguro...e tu? tu acha-lo banal...
vou, podes crer
vou descobrir a alegria de saber viver
e vou fazer-te inveja meu palhaço. cantas como galos logo bem cedo. dás até o ar da tua graça incutindo valores que já ninguém leva a sério. madrugar não é comigo e levas muito a sério o meu inconformismo.largas a corda do poço e deixas-me lá em baixo na esperança que eu me afunde. nem penses...também sou teimosa sabias? trepo o que for e tu...tu hás-de cair lá em baixo, sozinho, numa noite fria e chuvosa apenas puxado pela mentira em que vives. sonhas ir mais longe...vês as casas e eu os montes...vês o futuro bem seguro...eu vejo a fonte e o horizonte...e agora que tudo ainda te parece imaturo, eu digo-te que nunca há-de ficar maduro. faltou-te o alicerce principal....que numa mão fechada trago bem seguro...e tu? tu acha-lo banal...
a suplicar o teu amor em murmúrios de gente triste vou ficando aqui. sozinha. o vento bate e entra impiedoso rasgando-me em duas que na verdade nem eu conheço. São coisas sem sentido que bebo e bebo e vicio-me. já não gosto de entender essa gente que quer o mundo vivo e a girar. ele parou, disse-me o invasor. ele é forasteiro e não vais estar na eternidade dos meus dias mas sei que um dia vai entrar no teu cantinho e rasgar-te em dois tal como fez por cá. e nesse dia? que serão das minhas partes? irão elas fundir-se com as tuas? não existem meias laranjas pois não meu amor? facas...apenas facas.
faltas tu...meu princípe
Pelas leis da quimíca..tu...tinhas-me
Pelas leis da física...tu...consagravas-te
Pelas leis da fúria...tu...devoravas-me
Pelas leis da solidão...tu...afastavas-te
Pelas leis da união...tu...amarravas-me
Pelas leis da paixão...tu...efemerizaste-te
Pelas leis do Universo...tu...dominavas-me
Pelas leis da Natureza...tu...voaste
Pelas leis do amor...tu...amaste-me
A minha história é como a de qualquer uma louca e sonhadora que acredita num princípe encantado. Eu acredito e choro...ele ainda não chegou...tantos 'tus' e nenhum o meu!
Pelas leis da física...tu...consagravas-te
Pelas leis da fúria...tu...devoravas-me
Pelas leis da solidão...tu...afastavas-te
Pelas leis da união...tu...amarravas-me
Pelas leis da paixão...tu...efemerizaste-te
Pelas leis do Universo...tu...dominavas-me
Pelas leis da Natureza...tu...voaste
Pelas leis do amor...tu...amaste-me
A minha história é como a de qualquer uma louca e sonhadora que acredita num princípe encantado. Eu acredito e choro...ele ainda não chegou...tantos 'tus' e nenhum o meu!
ELOGIO AO AMOR
“Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito.Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama.Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado.Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha.Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso.Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja.Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz.É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor.A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma.É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida.A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente.O coração guarda o que se nos escapa das mãos.E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira.E valê-la também."
Para alguns o M.E.C. esta a ficar “cota”, para outros “mais sensível que o habitual”…para mim esta a ficar cada vez menos aprendiz e cada vez mais sábio! Só um grande mestre consegue encontrar a essência do verdadeiro amor, aquele que não se exprime em meras palavras nem em melodias de embalar, aquele que surge em cada atitude isento de meditação prévia…aquele que, inato ou não, mostra aos outros e a nós próprios o mais íntimo de nós. O Miguel, com palavras banais, frases simples e sem complexidade, busca no presente este amor…este amor que parece que desapareceu. Será? Eu sou uma mera aprendiz destas coisas, destas e de tantas outras…sinto-me imatura para falar de amor, afinal os meus humildes dezanove anos ainda não me forneceram tanta experiência assim, os meus muitos livros lidos ainda não me despertaram assim tantas dúvidas que me transformassem numa aprendiz convicta, mas como qualquer adolescente crescido ou…jovem adulto, tenho opiniões e ideais, muitos deles elaborados e advogados por mim, outros que fui “copiando” e aprendendo no pouco que já vi e ouvi. Não considero o Miguel um mestre mas este texto acendeu uma estrelinha em mim…muitos já falaram de amor, aliás, este é daqueles temas que até o senhor da esquina que vagueia em pensamentos latos e perdidos ao sabor da aragem tem uma teoria formada. Muitos falaram, em prosa, em poesia, em músicas que ficaram na história, em arquitecturas de uma beleza impar mas…quantos conseguem acender uma estrelinha? A mim foram poucos e o MEC consegui-o da forma mais simples que alguma vez tinha visto. A partir deste texto muitas foram as dúvidas, as memórias recentes e as longínquas de uma infância ainda presente, muitas foram as histórias que inventei na minha cabeça, muitas foram as pessoas em quem pensei…
Não concordo com o Miguel. Eu acredito no “amor puro” como única forma de amor e eu sei que ele existe dentro de cada um de nós. No fundo a mensagem não é esta, no fundo o Miguel também acredita no “amor puro” como única forma de amor. Tudo o que existe para além disso é apenas uma imitação barata do que devia ser amor, mas acho que falta no texto do Miguel uma distinção prática entre paixão e amor. Existe paixão sem amor e existe amor sem paixão? Eu acho que sim, mas não acredito que as pessoas consigam viver uma vida inteira sem amor…apenas apaixonadas. Há amor, “amor puro”, amor que tira fome e prazer, amor que dá vontade de rir e chorar, amor…em todos nós. É no amor, na minha opinião, que o Homem encontra a plenitude da vida, o caminho directo para o seu grande objectivo: a felicidade. Sem nunca deixar de ser amor, há, no entanto, diversas formas de amar, diversos sentidos e direcções para deixar o nosso olhar em forma de “amor puro”. Creio, que no fundo não estou a ser clara, mas falar de amor não é fácil. No fundo, a minha crítica fulcral orienta-se pelo facto do Miguel ter escrito que já não há “amor puro”. Comte-Sponville dividiu o amor em três tipos: philia; eros; agapè. Acredito que uma divisão assim se possa fazer mas no fundo é tudo amor e é este que existe em cada um…apenas não é expresso da mesma maneira, pelas mesmas coisas. Podemos estar simplesmente apaixonados por uma pessoa, mas completamente perdidos de amor por uma outra coisa qualquer…e o “amor puro” está lá! Percebo a perspectiva do Miguel, mas não entendo porque é que só o amor de dois namorados pode ser considerado “amor puro”. Existe…eu sinto-o!
(Se não existisse amor, com que finalidade é que um simples mortal, aprendiz como tantos outros, ousaria falar de amor sem nada perceber dele…apenas porque o ama…com o mais puro amor!)
Não concordo com o Miguel. Eu acredito no “amor puro” como única forma de amor e eu sei que ele existe dentro de cada um de nós. No fundo a mensagem não é esta, no fundo o Miguel também acredita no “amor puro” como única forma de amor. Tudo o que existe para além disso é apenas uma imitação barata do que devia ser amor, mas acho que falta no texto do Miguel uma distinção prática entre paixão e amor. Existe paixão sem amor e existe amor sem paixão? Eu acho que sim, mas não acredito que as pessoas consigam viver uma vida inteira sem amor…apenas apaixonadas. Há amor, “amor puro”, amor que tira fome e prazer, amor que dá vontade de rir e chorar, amor…em todos nós. É no amor, na minha opinião, que o Homem encontra a plenitude da vida, o caminho directo para o seu grande objectivo: a felicidade. Sem nunca deixar de ser amor, há, no entanto, diversas formas de amar, diversos sentidos e direcções para deixar o nosso olhar em forma de “amor puro”. Creio, que no fundo não estou a ser clara, mas falar de amor não é fácil. No fundo, a minha crítica fulcral orienta-se pelo facto do Miguel ter escrito que já não há “amor puro”. Comte-Sponville dividiu o amor em três tipos: philia; eros; agapè. Acredito que uma divisão assim se possa fazer mas no fundo é tudo amor e é este que existe em cada um…apenas não é expresso da mesma maneira, pelas mesmas coisas. Podemos estar simplesmente apaixonados por uma pessoa, mas completamente perdidos de amor por uma outra coisa qualquer…e o “amor puro” está lá! Percebo a perspectiva do Miguel, mas não entendo porque é que só o amor de dois namorados pode ser considerado “amor puro”. Existe…eu sinto-o!
(Se não existisse amor, com que finalidade é que um simples mortal, aprendiz como tantos outros, ousaria falar de amor sem nada perceber dele…apenas porque o ama…com o mais puro amor!)
MiguelEsteves Cardoso – in Expresso
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