funeral de borboletas

cemitérios de pranto, aqueles onde elas foram parar. não mereciam tamanho fim, coitadinhas. Eram símbolo de paixão antiga. alegres e dedicadas, recordo-as sempre a brincar. voavam sem parar. nesses tombos que faziam comichão na barriga, sinapsavam com o espertinho do coração. e assim fui andando e me fui habituando. não me lembro de as ter criado mas assisti à sua tranformação. ingratas por si, cansaram-se de mim. cumpriram sempre a sua missão: lembrarem-me o quanto gostava de ti.
e em homenagem as relembro:
Pupa, a mais nova. ainda em estado de criação, era a mais habilidosa. Conseguiu feitos incalculáveis em período de reintegração. lembrou-me o melhor de mim. apresentou-me o melhor de ti. foi-se nova, excesso de alucinação. arriscou, perdeu o norte, fechou as asas e morreu. enterrada lá pós lados da perdição.
Larva, nome horrível. Feitio igual. boa índole, ainda assim. picava hostilmente o meu orgulho. tratava-me na mesma categoria de ignóbil devassa como sempre também tu me categorizaste. e trataste. não lhe sinto a falta. mataste-a com sorriso sincero. arde em chamas no cemitério da minha amargura.
Mitose, a derradeira,a primeira. de dupla personalidade, tal qual tu. de impresssão errada, de nada tardava a impressionar-me. definia-se em ambiguidade. e o que eu gostava. a larva matou-a. lembro-lhe graça e lágrima e se há qual de que mais me lembro, é dela concerteza. metade no cemitério de sonhos ficou guaradada. da restia metade se ensombrou o musgo que corroeu a lápide. por vezes lá vagueio mas não lhe trago saudade.
Borboleta, a mais bonita...tal o amor à primeira vista. aquele que me cativou e em mim te guardou. destacava-te entre os demais, pela efemeridade de tão imponente bater de asas. de tão vaidosa, fugiu. não resistiu e morreu. descansa em paz na cama branca junto à inveja de todas aquelas que a olharam. retrato das tuas outras também. se me embebia em tão mortais pecados, eu nunca com tal me importei. sem dúvida, a que mais gostei. repousa nos lados da fantasia, em cemitério antigo e de beleza a condizer.
em funerais separados pelo tempo, foram-se todas. transladei-as para o coração. transformei-o, sem querer, num cemitério de borboletas, as borboletas da minha paixão.

1 comentário:

ariana_margarida disse...

minha amiga, deixa-me que te diga... deixa-me dar-te os parabens por teres escrito tamanho texto... tão bonito e tão bem escrito...

... o porquê...sei-o bem, como entendo cada palavra do que dizes e queres dizer...como sei do que falas... por conhecer essa tua história e também por tão bem (ou mal) me identificar com ele... é verdade, fala do mesmo...

um beijo grande vindo de outro cemitério de borboletas onde só as almas voam*